Fracasso Olímpico…

Abdon Marinho é advogado.OS JOGOS OLÍMPICOS do Rio de Janeiro ainda não começaram mas já temos um grande fracassado: o Brasil. Não falo dos resultados dos jogos em termos de medalhas (embora não tenha muitos motivos para acreditar que nos sairemos bem, um sucesso aqui ou ali será devido, sobretudo, ao esforço individual dos atletas, embora os governos brasileiros, que pouco ou nada contribuíram, sejam useiros e vezeiros em usar tais feitos em proveito próprio). Falo do que iremos mostrar ao mundo: uma Cidade Olímpica em “Estado de Sítio”.

Neste quesito o Brasil é um fracasso, ainda que os jogos transcorram sem qualquer incidente sério, como um atentando terrorista – e nação alguma no mundo está imune a qualquer louco que resolva causar mal aos outros –, ou mesmo incidentes com os bandidos locais, cada vez mais audaciosos.

Neste quesito o Brasil vai mostrar o quanto fracassou na sua política de segurança pública – sem ignorar os demais fracassos, na saúde, educação, infraestrutura, corrupção, etc. –, ainda que os atentados terroristas ocorridos em escala mundial sirvam para amainar o problema e podermos dizer que os milhares de soldados colocados à disposição do evento tem haver com essa preocupação, na realidade, saberemos que a verdade é outra: os milhares de soldados, os milhões de reais despendidos com a segurança dos jogos servirão para passar a falsa ideia de uma nação segura.

Uma olimpíada é a oportunidade esperada por cidades e nações para mostrarem o seu melhor, suas potencialidades. Tem sido assim em todo canto. Aqui, este fracasso anunciado.

A Olimpíada do Rio de Janeiro será o que foi a Copa do Mundo de 2014. O nosso país fracassou bem antes do vergonhoso 7 a 1 para Alemanha. Fracassou quando se propôs a realizar o evento; fracassou quando festejou a escolha; fracassou na megalomania de fazer a “maior de todas as copas”; fracassou ao construir verdadeiros monumentos ao desperdício que só serviram – e mal –, a copa, e hoje estão sem utilidade, gerando custos aos estados; fracassou ao não entregar o prometido legado, deixando obras pela metade e superfaturadas; fracassou ao permitir um dos maiores assaltos aos cofres públicos, conforme recentes investigações revelam.

Não, meus amigos, o nosso fracasso não foi apenas perder de 7 a 1 para Alemanha, aquela derrota apenas foi a cereja do bolo de todos os absurdos que antecedeu a derrota em campo e que prosseguiram depois.

Ainda hoje temos obras não concluídas a testemunhar isso; ainda hoje temos a confirmação (já sabíamos) das fábulas que desviaram com as tais obras da copa; ainda hoje testemunhamos a inutilidade e sub uso das arenas esportivas construídas onde não existe futebol.

Mas, fizemos a festa. Os turistas até devem ter se divertido, podem ter ficados impressionados com a nossa hospitalidade e alegria. E daí? O que a copa trouxe de benefícios a nós, brasileiros, que sustentamos a farra das autoridades irresponsáveis? Quanto deste dinheiro, inclusive, o que foi desviado, não teria sido melhor empregado em obras estruturantes, saúde, educação, rodovias, ferrovias, portos, tecnologia da informação, internet para alavancar o desenvolvimento?

Queriam mais. Por isso, quase simultaneamente à candidatura para a copa, apresentaram a candidatura do Rio de Janeiro para sediar a olimpíada de 2016.

E assim chegamos aqui. Como fizeram por ocasião da copa prometeram um vigoroso legado, pouco fizeram, o principal, a recuperação da Baia da Guanabara, destinada aos esportes aquáticos, não foi muito longe do planejamento. Do esgoto e lixo os atletas nas escaparão, com sorte talvez não se deparem com cadáveres durante as competições.

O próprio chefe da festa, o prefeito do Rio de Janeiro, reconhece que esta olimpíada é uma oportunidade perdida para o país. Lamentavelmente, só percebeu isso agora, e não antes de proporem a realização da mesma.

A vaidade falou mais alto. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso já sabia, à época do evento que seria como está sendo.

Em que pese a importância do evento para o esporte mundial, esse tipo de coisa não era para o Brasil. Nações mais ricas, mais estruturadas e estáveis, têm recusado estes eventos. Aí, o Brasil que caminha na contramão do desenvolvimento, faz festa para recebê-lo.

O resultado é o retumbante olímpico fracasso que assistimos.

No mesmo dia em que vemos o ministro da defesa, reunido com os comandantes militares, das três armas, e com outras forças de segurança, para montar o aparato de guerra, não de festa, vejo os servidores do Estado do Rio de Janeiro recepcionando os turistas nos aeroportos com a faixa “bem-vindos ao inferno”, em inglês, claro.

Estarão errados? Estamos longe do inferno numa cidade onde os índices de violência são idênticos aos de nações em guerra? Onde os hospitais praticam medicina de zonas de conflito e não dão conta de atender às pessoas que precisam de socorro médico? Onde escolas não conseguem funcionar devido à violência? Onde milhares de servidores e aposentados não recebem os salários em dia? Onde as crianças têm que se abrigar atrás de sacos de areias nas escolas com receio da troca de tiros de armas pesadas entre facções criminosas ou entre elas e a polícia como rotina diária? Esta é a cidade, este é o país que se propõe a receber uma festa olímpica?

Encerro dizendo que fora todos estes percalços, é até possível que a festa olímpica transcorra sem incidentes. Aliás, os bandidos até “maneiram” durante estes eventos, uma espécie de pacto, para que seus “negócios” não sejam prejudicados.

O problema do Brasil, e do Rio de Janeiro, em especial, não é o mês olímpico, são os outros onze meses, são os outros anos.