Laura June é jornalista e mãe de uma menina de três anos. Semana passada ela publicou um artigo em sua coluna no site The Outline contando que, enquanto procurava um vídeo para a filha assistir na rede social de vídeos YouTube, se deparou com os mesmos personagens queridos pelas filha, só que protagonizando episódios falsos. Em um deles, a personagem Peppa Pig tem seu dente arrancado por um dentista com uma seringa gigante, tudo ao som de um choro angustiante.
Peppa Pig é uma série britânica de desenhos animados para crianças, produzida por Astley Baker Davies. Os desenhos contam a história de Peppa, uma porquinha cor-de-rosa que vive com seu irmão George e seus pais Papai Pig e Mamãe Pig em uma cidade fictícia.
“No episódio, a Peppa chora e grita muito, o dentista é um pouco sádico e (o vídeo) simplesmente está muito, muito longe do que uma garota de três anos
deveria ver”, disse June no texto.
Créditos: Reprodução Poo Poo/Youtube
Depois da publicação de seu relato, o portal da BBC, desvendou centenas de vídeos que parecem episódiosoriginais, mas, na verdade, são paródias com temas nada nadaadequados para o universo infantil.
E não é só com a Peppa Pig. A BBC descobriu outros vídeos parecidos com personagens do filme Frozen, Minions, Meu Malvado Favorito, Doutora Brinquedos, Thomas, a Locomotiva a Vapor e muitos outros. Um canal do YouTube, chamado Toys and Funny Kids Surprise Eggs é uma das 100 contas do YouTube mais vistas no mundo – com vídeos que têm mais de cinco bilhões de visualizações.
A foto de capa do canal mostra uma criança ao lado de imagens aparentemente oficiais de Peppa Pig, do Thomas, a Locomotiva a Vapor; do Come-Come (personagem da Vila Sésamo), do Mickey, da Minnie e de Elsa, personagem de Frozen. Mas, ao acessar os vídeos no canal vê-se títulos como “Elsa de Frozen ranho gigante”, “Hulk pelado perde suas calças” e “Elsasangrenta: braço de Elsa de Frozen é quebrado pelo Homem-Aranha”.
Muitas dessas produções são paródias ou tem uma roupagem tão exagerada que claramente foram pensados para que que o público adulto assista. Todavia, muitos deles, têm conteúdo inadequados para crianças e podem se passar facilmente pelos desenhos autênticos.
“A criança está numa fase de aprendizado, de captura de informações que serão essenciais para a sua construção como ser social. Os desenhos ajudam também nessa construção. Os personagens infantis são também fonte de inspiração, uma vez que a criança se identifica com ele. Por isso, é tão importante que os responsáveis estejam cientes e avaliem se acreditam ser um desenho adequando ou não para seu filho, seja o desenho verdadeiro ou falso”, complementa.Isso pode ser bastante complicado na medida que as crianças tendem a identificar-se com os personagens infantis. “Quando elas veem o seu personagem querido com comportamentos transgressores e agressivos, elas correm o risco de misturar os valores e princípios que estão sendo assimilados”, analisa a psicóloga Luciana Rocha.
Como evitar conteúdo impróprio no YouTube
À BCC, o YouTube, a sugeriu que os pais usem o aplicativo YouTube Kids, que está disponível para celulares e tablets, e acionem o “modo restrito”, que bloqueia o conteúdo denunciado. Ainda assim, alertam que “nenhum filtro é 100% preciso”.
Créditos: Reprodução YouTube Toys and Funny Kids Surprise Eggs
“É perfeitamente legítimo que um pai acredite que algo chamado Peppa Pig vai ser realmente a Peppa Pig”, diz ela. “E eu acho que muitos deles passaram a confiar no YouTube como uma maneira de entreter o seu filho por dez minutos, enquanto eles fazem um telefonema. Acredito que, se o YouTube quer ser uma marca de confiança, os pais precisam saber que há proteções ali.”
Recomendações
A SBP – Sociedade Brasileia de Pediatra – recomenda que bebês com até dois anos não tenham nenhum acesso às telas, principalmente durante as refeições ou antes de dormir. Para crianças entre dois e cinco anos, o limite recomendado é de uma hora diária. Já as de seis anos não devem ter contato com jogos violentos e, até os dez anos, nenhuma criança deve ter televisão ou computador nos próprios quartos para evitar a vulnerabilidade do acesso a conteúdos inapropriados