A Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer estabelece que os cuidados paliativos devem estar todos os níveis de atenção na área de saúde.

Segunda causa de morte no Brasil, o câncer é uma doença crônica e progressiva que traz muita dor e sofrimento para o paciente oncológico e seus familiares. Visando minimizar essas dores e proporcionar uma melhor qualidade de vida, os Cuidados Paliativos têm ganhado destaque no tratamento oncológico devido a prática assistencial pautada em uma abordagem holística, humana e compassiva.
Essa prática médica remonta ao Século V, mas ainda é pouco difundida no Brasil. Conforme a médica paliativista da Rede Oncoradium, Melissa Cesário, o principal objetivo é entender o sofrimento do paciente de maneira integral e não enxergar apenas a doença, o diagnóstico.
“No tratamento oncológico, o cuidado paliativo visa abordar todas as demandas do paciente, sejam elas relacionadas a controle de sintoma físico, sofrimento psíquico/emocional ou espiritual. Idealmente, o acompanhamento com a equipe de cuidados paliativos deve começar no momento do diagnóstico da doença oncológica, para tentar prevenir e/ou minimizar os efeitos da doença e do tratamento na qualidade de vida do paciente”, afirma a médica.
Quando o processo curativo não é mais uma opção, a prática paliativa surge com abordagens que visam o controle tanto da dor física como psicológica e espiritual, valorizando o ser e suas queixas. Nesse cuidado humanizado é importante que se estabeleça uma relação de confiança e de interatividade entre médico, paciente e família.
“Se este vínculo for construído de maneira sólida, o médico será capaz de fornecer ao paciente o melhor tratamento possível, dentro das preferências do mesmo, incluindo os momentos finais de vida. O cuidado com a família vai desde facilitar a comunicação entre os familiares e os médicos assistentes do paciente, esclarecer possíveis dúvidas que possam surgir na evolução da doença, quebrar as barreiras emocionais que possam existir nas relações interpessoais, até assistência ao luto”, ressalta a médica paliativista.
Desafios
Mesmo diante de sua importância e contribuição no tratamento oncológico, os Cuidados Paliativos ainda encontram vários desafios em sua implementação, principalmente por questões de desconhecimento sobre os serviços e por falta de qualificação profissional.
“Uma das maiores dificuldades que encontramos na nossa rotina é a existência de muitos mitos envolvendo os cuidados paliativos. Uma das nossas lutas é banir a famosa frase “não há mais nada que se fazer”, por se tratar de uma falsa convicção. Muitos pacientes e famílias sentem medo quando são informados de que serão avaliados pela equipe de cuidados paliativos, pela falsa crença de que serão retirados os tratamentos do paciente; quando, na verdade, o intuito da equipe é sempre agregar, somar ao cuidado do mesmo”, destaca Melissa Cesário.
Vale ressaltar que Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer estabelece que os Cuidados Paliativos estejam inseridos em todos os níveis de atenção na área de saúde, desde atenção básica até a alta complexidade. Também é importante alertar que os Cuidados Paliativos não têm relação com a temida “eutanásia”, que é o adiantamento da morte do paciente e é proibida pela legislação do Brasil.
“Dentro do que acreditamos, a prática ideal é a de ‘ortotanásia’, que consiste em respeitar a evolução natural da doença, sem acelerar ou retardar a morte, afirmando a vida enquanto ela existir”, finaliza a médica paliativista Melissa Cesário.
Alan Milhomem
Assessor de Imprensa