Em 2022, região Sudeste liderou ranking de casos confirmados com mais de mil infectados e 108 mortes
Médico veterinário recomenda cuidados à população para evitar o risco de contaminação
Considerada epidêmica pelo Ministério da Saúde em períodos chuvosos, a leptospirose é uma doença infecciosa febril aguda transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de animais (especialmente ratos) infectados pela bactéria Leptospira. Dados do Ministério mostram que em 2022 foram mais de 3 mil casos confirmados no país, sendo 310 óbitos. A região Sudeste liderou a lista de confirmações com 1.018 infectados – sendo 108 mortes; seguida das regiões Nordeste (954), Sul (762), Norte (304) e Centro-Oeste (45). No Maranhão, foram registrados 32 casos da doença e 6 óbitos no ano de 2022.
Segundo o médico veterinário Raphael Castro, o agravamento da contaminação em épocas de chuvas se dá devido aos alagamentos e enchentes, associadas às condições inadequadas de saneamento.
– As chuvas podem contribuir para maior ocorrência de leptospirose na população por levar a bactéria (Leptospira spp) ao contato com as pessoas, que pode ficar abrigada nos rins de diversos animais, principalmente de ratos (camundongos, ratazanas ou rato do telhado). Cães, gatos, bovinos, equinos e outros animais de produção também são reservatórios para essa bactéria -, informa o docente do curso de Medicina Veterinária da Estácio.
O doutor em Engenharia Biomédica e Sanitarista especialista em Saúde Pública explica que, nos ratos, a doença não ocorre, mas eles disseminam as bactérias através da urina, contaminando a água, o solo e até mesmo alimentos.
– Nas cidades, eles habitam as tubulações de esgoto e de águas pluviais, terrenos baldios ou sem limpeza ou com entulhos, abrigos próximos às residências ou em seu interior, telhados, e diversos outros locais, principalmente se houver oferta de alimentos acessíveis. Como o controle populacional desses animais não é um trabalho simples, podemos facilmente observar áreas urbanas onde sua população é bastante elevada, como os centros comerciais e as periferias das cidades. Nessas localidades, o acúmulo de lixo serve de atrativo por representar fonte ou oferta de alimentos ou abrigo, contribuindo para a concentração desses animais nessas áreas -, destaca o profissional.
Como ocorre a contaminação?
As dificuldades com a drenagem e escoamento de águas pluviais nos centros urbanos permitem o acúmulo de águas das chuvas, que, em contato com a urina de ratos infectados presentes nas tubulações, levam as bactérias para a superfície e expõem a população a condições de maior risco, segundo Raphael Castro.
– Além disso, a baixa qualidade do saneamento básico e da coleta e tratamento de esgoto, que por vezes corre a céu aberto, permitem o contato direto das pessoas, inclusive de crianças que utilizam o espaço para brincar, com a água e solo potencialmente contaminados.
Estar em contato com a água proveniente de alagamento fragiliza as barreiras cutâneas dos seres humanos, diz o médico veterinário, facilitando a penetração da bactéria causadora da leptospirose, mesmo sem qualquer lesão de pele.
– Uma vez que a bactéria penetra em nosso corpo, ela pode demorar até 30 dias para causar os primeiros sintomas, porém, isso ocorre de 5 a 14 dias em média. Os quadros clínicos variam de formas leves até fulminantes. Cerca de 90% dos infectados iniciam com manifestação abrupta de febre, seguida por dores de cabeça, dores musculares, perda de apetite, náuseas e vômitos. A leptospirose pode ser confundida com muitas outras doenças e a suspeita precoce e o rápido diagnóstico favorecem o sucesso no tratamento, por isso a importância de se procurar imediatamente uma unidade de saúde, caso surja algum dos sintomas, principalmente se houver histórico de contato com água potencialmente contaminada -, destaca o professor da Estácio.
Atuando na prevenção
Raphael Castro destaca cinco medidas preventivas importantes contra a doença:
1 – Evitar entrar em contato ou permanecer por longo período em águas de alagamentos, transbordamentos ou enchentes;
2 – Manter quintais e terrenos limpos, livres de entulhos, limitando as oportunidades para que os ratos façam abrigo e formem colônias;
3 – Armazenar e descartar o lixo doméstico em locais protegidos e longe do alcance de animais, inclusive de seu acesso por roedores;
4 – Acondicionar a alimentação dos animais domésticos, como cães e gatos, em locais protegidos e não deixar ração em excesso nos vasilhames de alimentação destes animais, evitando serem utilizados como alimentos pelos ratos;
5 – Higienizar previamente embalagens de alimentos enlatados, engarrafados ou envasados, pois podem ter sido expostos a condições que tenham permitido o acesso de ratos nesses espaços.
– Além disso, por parte do Poder Público também é importante estar atento à coleta regular de resíduos sólidos urbanos e sua destinação ou tratamento sanitário adequado; à capina ou limpeza de terrenos baldios, praças, imóveis abandonados ou qualquer outro ambiente que oferte abrigos aos roedores; à limpeza constante das vias públicas, bueiros, tubulações e galerias de águas pluviais, para uma adequada drenagem das águas das chuvas; à limpeza de córregos, ribeirões ou outros leitos, que devem ser feitas previamente ao período chuvoso; entre outras ações -, enfatiza o professor do curso de Medicina Veterinária da Estácio.
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