Mais de 9 milhões de jovens não concluíram a educação básica e não frequentam escolas, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua, módulo Educação, IBGE, 2022). A fim de compreender os principais motivos e consequências de não ter concluído a educação básica e não frequentar a escola, além de identificar a intenção dos jovens em retomar para as escolas, bem como investigar o potencial de iniciativas e políticas mais efetivas para promover o retorno, o Itaú Educação e Trabalho e a Fundação Roberto Marinho lançam a pesquisa inédita “Juventudes fora da escola”. O estudo é fruto de colaboração técnica com o Instituto Datafolha, a Conhecimento Social Estratégia e Gestão e a Rede Conhecimento Social e traz à tona a situação de violação do direito à educação, previsto nos artigos 205 e 208 da Constituição Federal, e aponta, à partir das perspectivas dos jovens e de especialistas, que não há modelo que funcione para todos.
Entre os principais achados da pesquisa está que 73% dos jovens pretendem concluir a educação básica. Destes, 28% possuem o fundamental incompleto, 16% o fundamental completo e 29% o ensino médio completo. “O fato de termos mais de 9 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que não frequentam a escola e não concluíram a educação básica revela uma preocupante ‘tolerância’ da sociedade brasileira em relação à exclusão educacional dos mais vulneráveis. A maioria desses jovens provém de famílias com renda per capita de até 1 salário-mínimo, sendo que sete em cada 10 são negros. É alarmante constatar que 86% deles já ultrapassaram a faixa etária adequada para frequentar o ensino regular. Enquanto para os jovens das camadas mais privilegiadas é praticamente uma formalidade concluir o ensino médio, para as juventudes mais vulneráveis, a violação do direito à educação não tem recebido o devido cuidado. Diante do custo social e econômico avassalador tanto para os jovens quanto para o país, torna-se essencial transformar essa tolerância em ação concreta: todos os setores da sociedade precisam unir esforços para viabilizar o retorno e a conclusão da educação básica para esses jovens.Não seremos uma nação justa e economicamente forte se permitirmos que dois em cada dez jovens cheguem à vida adulta sem ao menos o ensino médio”, afirma Rosalina Soares, Assessora de Pesquisa e Avaliação da Fundação Roberto Marinho.
Outro destaque é que 77% dos jovens que saíram da escola e pretendem concluir o ensino médio têm intenção de cursar o ensino técnico, uma sinalização da importância do preparo para o mundo do trabalho na escola para que os que estão fora retornem à sala de aula.
A pesquisa ouviu mais de 1,6 mil jovens, de 15 a 29 anos, em todo o território nacional, além de contar com etapa qualitativa junto a jovens e especialistas O estudo será lançado nesta terça-feira (12), durante evento com o mesmo nome, “Juventudes fora da escola”, em São Paulo, com participação do poder público, setor produtivo e sociedade civil para debater os desafios e ações para combater a evasão escolar.
Entre as principais razões para terminar o ensino médio os jovens apontam a perspectiva de melhora da condição profissional, seja para ter um emprego melhor (37%) ou arrumar um emprego (15%), seguido pelo desejo de cursar uma faculdade (28%).
Já os 27% que responderam não pretender concluir o ensino médio, indicaram como principais razões para isso a necessidade de trabalhar (32%), seguida por precisar cuidar da família (17%). Do total de jovens ouvidos, 92% concordam que concluir a educação básica ajudaria a ter melhores oportunidades de trabalho. Na pesquisa qualitativa, os jovens reforçaram que a necessidade de trabalhar foi um dos motivadores para não concluírem os estudos, mas sinalizaram que não o teriam feito se soubessem que as oportunidades de trabalho para quem não concluiu o Ensino Médio são limitadas e precárias, se tivessem ajuda para conciliar o emprego e estudos e se a escola preparasse melhor para o Ensino Superior e mercado de trabalho.
Para Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, a pesquisa reforça a urgência de políticas públicas e iniciativas intersetoriais para garantir educação de qualidade e preparo para o mundo do trabalho para as juventudes. “Os dados revelam a questão do mundo do trabalho como central na decisão desses jovens que estão fora da escola, seja na tomada de decisão para interromper os estudos, seja para retomá-los. Temos o compromisso constitucional de, na escola, formarmos profissionalmente os jovens, para que eles tenham condições de garantir inserção produtiva digna e dar sequência na carreira que desejarem optar. Fortalecer a Educação Profissional e Tecnológica é fundamental nesse sentido, para que os jovens tenham formação adequada e alinhada às tendências do mundo do trabalho, assim como é urgente criarmos condições para que essa parcela da população estude e tenha oportunidades profissionais”, avalia.
A saída da escola
A pesquisa mostra que, em média, os jovens interromperam os estudos há seis anos, tempo que se torna um grande desafio para que consigam retomar e concluir a educação básica. Além disso, 68% dos jovens que evadiram da escola informaram já terem reprovado de série ao menos uma vez.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) foi uma opção procurada por 35% dos jovens entrevistados para tentarem concluir os estudos, enquanto 7% fizeram o Exame Nacional para a Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). A etapa qualitativa da pesquisa mostrou que, para essa modalidade de ensino, as principais barreiras apontadas para finalizar a educação básica foram o horário de aulas incompatível com o de trabalho e a obrigatoriedade de aulas presenciais.
Políticas públicas para voltar aos estudos
A pesquisa ouviu os jovens sobre quais motivações os fariam voltar às aulas e concluir o ensino básico. A etapa qualitativa mostra que, principalmente, os jovens desejam ter opções de diversos modelos para concluir os estudos, conciliar estudo e trabalho, ter flexibilidade de horários, opções de estudarem on-line no Ensino Médio regular, EJA e técnico, auxílio-financeiro, creche para seus filhos, acolhimento e orientação.
Os dados mostram que para 41% seria necessário estudar em um horário e trabalhar no outro, 35% sugerem ter um auxílio financeiro mensal e 32% sinalizam a importância de ter creche para deixar os filhos enquanto estudam.
Quanto às modalidades de oferta da escola e do curso, 51% afirmaram que voltariam a estudar se as aulas fossem totalmente presenciais, 28% se fossem totalmente à distância, com professor on-line e 26% se o ensino fosse híbrido.
Já em relação ao horário das aulas, 62% voltariam a estudar se fosse no período noturno, 24% se fosse de manhã e 17% se tivessem horário flexível, para frequentar conforme a disponibilidade de tempo. Dos jovens ouvidos, 34% afirmaram que onde eles moram não têm escola com vaga disponível em horários compatíveis com sua disponibilidade.
Sobre como a escola e o curso poderiam ser mais atraentes para esses jovens que interromperam os estudos, as principais citações foram no sentido de se o curso para concluir os estudos fosse em menos tempo (43%); que o curso prepare para entrar em uma faculdade ou passar em concurso público (35%); e o conteúdo ser voltado para aprender uma profissão (31%).
Conexão e bem-estar
Ainda sobre as motivações para que esses jovens retomem e concluam os estudos, eles pedem que as aulas utilizem computadores e outros recursos tecnológicos (45%); ter aulas práticas, com oficinas e laboratórios para aprender fazendo (44%); e ter livro didático para o aluno levar para a casa (33%).
Sobre conexão, a pesquisa revela que 70% dos jovens que estão fora da escola nunca fizeram um curso on-line, 23% já fizeram e 7% não têm acesso à internet. Caso tivessem a oportunidade de estudar on-line, 58% conseguiriam e não teriam problemas de conexão, 25% conseguiriam, mas a conexão não é boa e poderia atrapalhar e 14% não conseguiriam acessar o curso.
No âmbito do bem-estar, sinalizam a importância de ter professores que ajudem a superar dificuldades com os estudos (52%); estar em uma escola com bom relacionamento entre professores e estudantes (36%); e ter apoio da família para concluir os estudos (36%).
Pesquisa com especialistas
O estudo ouviu, ainda, especialistas em educação, que apontaram a necessidade de a evasão escolar ser vista como um problema coletivo e social pelos governos. E que para solucioná-la é necessário um conjunto de soluções que dependem de atuação intersetorial no nível local e oferta de diversas modalidades de ensino.
Para os especialistas, a oferta de apenas uma solução ou modalidade de ensino será insuficiente para cobrir as demandas das diferentes faixas etárias, condições socioeconômicas, territorialidades (entre outras variáveis) e perfis demográficos dos jovens que estão fora da escola.
Sobre o Itaú Educação e Trabalho
O Itaú Educação e Trabalho (IET) faz parte da Fundação Itaú. Atua há quase duas décadas, em parceria com entidades civis e o poder público, para apoiar e incentivar a implantação de políticas de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) com foco em três eixos principais: ampliação do número de jovens inscritos na formação profissional, oferta de qualidade e maior inclusão produtiva desses estudantes. Para o Itaú Educação e Trabalho, a educação é um vetor de desenvolvimento social e econômico de uma nação. Por isso, atua para que os estudantes tenham uma formação qualificada para o mundo do trabalho, em uma realidade em constante mudança, e se sintam estimulados a seguir aprendendo em todas as etapas da vida.
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