Entre emoções e alimentação: a luta contra os transtornos alimentares”

Entre emoções e alimentação: a luta contra os transtornos alimentares”

Mais de 15 milhões de pessoas no Brasil sofrem com o problema

Você já se sentiu preso em um ciclo do qual parecia impossível sair? Para Andréia Souza, 36 anos, a ansiedade e um turbilhão de outras emoções mexeram com a sua alimentação e transformaram completamente sua rotina. “O que antes era uma alimentação normal, hoje é um refúgio. Quando fico nervosa, corro para comer. Não é fome comum, é como se eu quisesse preencher o vazio que sinto.” O ciclo de compulsão e culpa é constante. “Acabo exagerando e depois me sinto péssima”, lamenta. 

Andréia, que é funcionária pública, conta que enfrenta uma batalha silenciosa. “Eu nunca imaginei que a comida pudesse se tornar um problema na minha vida. Sempre fui equilibrada, mas, nos últimos meses, as coisas saíram do controle”, relata ela. 

O relato de Andréia não é isolado. Os transtornos alimentares afetam milhões de pessoas e refletem a complexidade entre emoções, corpo e mente. Segundo a professora Thatiane Aroucha, do curso de Psicologia do Centro Universitário Estácio São Luís, o equilíbrio emocional é sustentado por três pilares: alimentação, sono regulado e uma rotina de exercícios. “Quando falamos sobre saúde mental e transtornos alimentares, abordamos esses três pilares fundamentais. Eles precisam estar equilibrados para que a pessoa se sinta bem psicologicamente”, afirma.

Ela também destaca a conexão direta entre emoções e alimentação. “Muitas vezes, a comida se torna uma fuga emocional. Por exemplo, uma pessoa ansiosa pode buscar conforto imediato nos alimentos, porque a alimentação está diretamente ligada ao estado emocional no momento.”

SINAIS E TERAPIA

Sinais como isolamento durante as refeições, comer muito rápido ou até sentir-se mal após exagerar na comida podem indicar um transtorno alimentar. “Esses comportamentos, quando recorrentes, são preocupantes. Muitas vezes, a pessoa evita comer na frente de outros, seja por vergonha de comer muito ou pouco”, explica Aroucha.

Os transtornos alimentares geralmente têm origem em um estado psicológico abalado. “A pessoa pode perceber mudanças no peso, mas a maior dificuldade é identificar as causas emocionais por trás disso. Por isso, é essencial buscar ajuda profissional para compreender e lidar com essas questões”, reforça a professora.

O apoio terapêutico é crucial para enfrentar essas condições. “A terapia ajuda a identificar os sinais, compreender as causas e traçar um plano para lidar com a relação com a comida. É sobre entender por que recorrer à comida como fuga e como mudar essa dinâmica”, destaca Aroucha.

A autopercepção também desempenha um papel importante. “Não é apenas sobre ser magro ou bonito, mas sobre como a pessoa se enxerga. A forma como nos vemos pode influenciar diretamente no desenvolvimento de transtornos alimentares”, observa.

Para ajudar alguém com transtornos alimentares, o acolhimento é fundamental. “Oferecer uma escuta sem julgamentos é o primeiro passo. Comentários como ‘você está muito magra’ ou ‘você está muito gordo’ não ajudam. O ideal é ouvir, apoiar e orientar a busca por ajuda profissional”, orienta Aroucha.

DADOS

Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, mais de 15 milhões de pessoas no Brasil sofrem de transtornos alimentares. Condições como anorexia nervosa e bulimia são graves. O índice de mortalidade de pacientes com anorexia pode chegar a 20%, segundo a ABP.

Andréia Souza reconhece a necessidade de ajuda. “Sei que preciso acolher meus sentimentos e buscar apoio, sem me julgar tanto. Meu maior desejo é encontrar o equilíbrio novamente, tanto no meu casamento quanto na relação com a comida e comigo.”

Os transtornos alimentares são um reflexo de um estado emocional abalado. Identificar os sinais, buscar ajuda e acolher sem julgamentos são passos cruciais para reequilibrar a relação com a comida e alcançar uma vida mais saudável. Como reforça a professora Aroucha: “O mais importante é que ninguém precisa enfrentar isso sozinho. Há caminhos para a recuperação e uma vida mais plena”, conclui.