O artigo da semana do senador Roberto Rocha

*O devaneio das águas*

*Roberto Rocha*

Chegou ao Senado Federal, já aprovado na Câmara, um projeto que está sendo discutido há 20 anos que propõe transpor as águas do rio Tocantins para o rio São Francisco. Para qualquer maranhense que mora à margem do rio, soa como se obrigássemos um anêmico a doar sangue.

 

É compreensível o esforço para manter o velho Chico em sua pujança original. O São Francisco é como um milagre que corta a zona mais árida do país, garantindo vida para milhares de pessoas. Mas é preciso tratar o tema com serenidade e rigor técnico.

 

Como iniciar uma obra que demandaria mais de 700 quilômetros de canais, com um desnível acentuado entre a captação e a entrega da água, o que implica altíssimo custo de energia para o bombeamento, da ordem de R$ 500 milhões por ano, dos quais R$ 300 milhões só para energia?

 

Imagine-se o esforço de engenharia para captar as águas do Tocantins e elevá-la a mais de 300 metros até o São Francisco, atravessando biomas diferentes, climas distintos, toda uma ictiofauna com espécies diversas.

 

Outro agravante é que o aquífero que abastece o Tocantins, o Urucuia, é um dos mesmos que abastece o São Francisco. E esse aquífero vem perdendo força no Cerrado, por conta do uso indiscriminado dos solos, que vem perdendo a capacidade de alimentar seus aquíferos.

 

A saída para o problema do São Francisco não está em comprometer outros rios, a um custo astronômico. Mais inteligente é preservar o Cerrado, pra evitar a impermeabilização, garantindo a saúde da “caixa d`água” do país, que é o complexo de aquíferos situado no Cerrado.

Há que se investir também na revitalização do rio São Francisco, com um plano sério que impeça a expansão indiscriminada de novos projetos de irrigação e uso da água, além, é claro da necessidade de recompor as matas ciliares, as encostas e áreas de recarga.

Esse é o sentido de estarmos discutindo, em todo o Maranhão, a questão da *Revitalização dos Rios Maranhenses e suas Nascentes*. Não queremos chegar ao ponto em que se vêem agora nossos irmãos nordestinos, projetando mirabolantes intervenções tecnológicas para salvar o seu mais importante rio.

Não contem com meu voto para esses devaneios.