A descoberta de 71 pegadas de dinossauros foram comprovadas
cientificamente por pesquisadores de paleontológico das Universidades
Federais do Pará, Rio de Janeiro e Maranhão. O Sebrae está
acompanhando o processo de roteirização e capacitando proprietários
de atrativos turístico na região.
A curiosidade sempre foi a grande motivadora de grandes descobertas no
mundo. Não diferente, foi a curiosidade que levou os moradores da
pequena cidade de Fortaleza dos Nogueiras a perceber que existia algo
diferente desenhado nas pedras às margens do Riacho Lajes, o que
posteriormente foi cientificamente comprovado por pesquisadores como
pegadas de dinossauros.
Localizado no Sul do Maranhão, o município de Fortaleza dos Nogueiras
fica a 706 quilômetros da capital maranhense, tem cerca de doze mil
habitantes que vivem da agricultura familiar e do comércio local. A
cidade é cercada por uma fortaleza de serras, que faz jus ao nome de
emancipação da cidade.
O Sebrae Maranhão, por meio do projeto de turismo da unidade regional
em Balsas, tem acompanhado o processo de identificação das pegadas de
dinossauros e planeja realizar ações junto a proprietários dos
atrativos da região, no intuito de capacitá-los para melhor explorar
esse roteiro turístico, que faz parte da modalidade do turismo
cientifico.
Para a gestora do projeto de turismo do Sebrae em Balsas, Sandra
Barcelos, tornar esses atrativos paleontológico conhecidos é algo
importante, haja vista o impacto histórico e turístico da descoberta e
ainda fazer dos atrativos, roteiros que gerem renda para as famílias da
região.
“O Sebrae entende que essas pegadas de dinossauros, identificadas e
cientificamente comprovadas, se tornam um produto histórico e
turístico em potencial para a região, que deve ser explorado de forma
legal, pensando em promover o roteiro, porém, levando em conta a
conservação do atrativo, para que, com o fluxo de turistas na região,
não sofra interferência e assim desapareça. É importante destacar
também que é um novo modelo de negócio que uma vez estruturado, vai
gerar renda para os moradores da região”, ressaltou Barcelos.
Algumas ações já foram realizadas, a exemplo da capacitação de
condutores de turismo, realizada no primeiro semestre deste ano, que
capacitou vinte empreendedores e potenciais empreendedores do segmento
turístico em Fortaleza dos Nogueiras. O objetivo foi preparar
empresários para receberem turistas que desbravam a região em busca
das belezas do ecoturismo, além de incentivar a prática da atividade
do turística na sua ampla exploração no Polo Chapada das Mesas.
Outras ações estão previstas ainda para o segundo semestre de 2018.
CIÊNCIA
O turismo científico é um dos tantos formatos de turismo encontrado na
região que já vem trabalhando as belezas naturais no ecoturismo,
turismo de contemplação, lazer e aventura. Para Maria Boaventura, que
mora há dezessete anos na propriedade onde foram encontradas as 71
pegadas de dinossauros, os visitantes e curiosos se impressionam com o
achado.
“Os próprios pesquisadores ficaram impressionados com o que
encontraram. Além deles, grupos de professores, estudantes e turistas
sempre aparecem por aqui, vislumbram as pegadas e ainda se refrescam num
banho de riacho. Fico muito feliz de ter essa riqueza aqui tão perto”,
frisou Boaventura.
Para Deusdédit Carneiro, chefe do Centro de Pesquisa da História
Natural e Arqueológica do Maranhão, a descoberta das pegadas é muito
importante para as pesquisas sobre o assunto e também é fundamental
que as instituições promotoras do turismo pensem em fomentar a
exploração do turismo cientifico, haja vista ser propriedade
histórica da comunidade local, contudo, ele alerta para os cuidados
necessários para a não degradação do material paleontológico
existente no local.
“É necessário que tenha um estudo mais aprofundados para conhecer o
potencial da região e de forma didática ser apresentado a comunidade,
explicando toda a formação geológica, a geomorfologia, origem e
importância dos achados. Turisticamente é importante saber que o
público do turismo científico é bem segmentado e tem que pensar em
uma forma para que o turismo cientifico não seja um turismo
predatório”, ressaltou Carneiro.
Carneiro ressalta ainda que, dentro desse contexto turístico é
importante haver uma política planejada para a inserção da questão
do turismo cientifico. “A região já tem seus atrativos naturais que
podem ser enquadrados nos atrativos de turismo de aventura ou dentro de
um turismo contemplativo de paisagens, mas o turismo cientifico requer
uns cuidados especiais, principalmente ter pesquisas mais sistemáticas
para conhecer ainda mais potencial da região”, complementou.
No sentido de fomentar o turismo cientifico na região, a gerente do
Sebrae em Balsas, Cecília Salata ressalta que a instituição está
fazendo um trabalho de base e ainda em 2018 várias capacitações e
consultorias estão previstas para acontecer com os empreendedores do
turismo, em Fortaleza dos Nogueiras.
“Não há ainda um produto turístico formatado e adequado para receber
o público. É necessário capacitar, fazer com que o receptor esteja
preparado para da melhor forma apresentar esse modelo de turismo aos
visitantes. Portanto, o Sebrae vai fazer algumas interferências no
sentido de preparar os principais atores desse processo, os
proprietários dos atrativos turísticos e seus colaboradores”,
reforçou Salata.
A PESQUISA
O primeiro registro fóssil na Formação Sambaíba, que se formou no
período Neotriássico-EoJurássico (há cerca de 200 milhões de anos),
na Bacia do Parnaíba, foi registrado pelos estudos de José Fernando
Pina, Joel Macambira e Leonardi Giuseppe, ambos das Universidades
Federais do Pará e Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O material e contexto geológico de estudo consiste em um conjunto de 71
impressões tridáctilas digitígradas, que está localizado na Bacia do
Parnaíba, região que abrange quase totalmente os estados do Maranhão
e Piauí e parcialmente os estados do Pará, Ceará, Tocantins, Goiás e
Pernambuco.
Para Agostinha Pereira, bióloga e paleontóloga do Centro de Pesquisas
Naturais e Arqueologia do Maranhão, existe um entendimento que qualquer
mudança no quadro natural das coisas, no caso, a descoberta das pegadas
de dinossauros passa obrigatoriamente pela qualidade da educação
científica da população.
“A educação científica pode ser gerada em diferentes níveis, como em
escolas fundamentais e de ensino médio, procurando desde cedo mostrar a
importância da pesquisa e despertando vocações, e ao nível
universitário, procurando formar pesquisadores de alta qualidade.
Paralelamente a esta educação formal, muitos países têm adotado uma
outra estratégia para procurar despertar o interesse da população
para as ciências. Esta maneira de educação informal vem alcançando
um destaque crescente nos últimos anos, sendo disseminada por meios de
comunicação, de programas de extensão universitária, palestras,
minicursos e museus”, ressaltou Agostinha Pereira.
Ainda de acordo com a pesquisadora, este trabalho contribui para
modificar o cenário apresentado, ao registrar pela primeira vez a
ocorrência de pegadas de terópodes (dinossauros bípedes) em arenitos
da Formação Sambaíba, historicamente uma unidade afossilifera,
objetivando a divulgação da descoberta de um novo sítio
icnofossilífero brasileiro, a partir do registro de um conjunto com 71
pegadas de dinossauros bípedes, encontradas ao sul de Fortaleza dos
Nogueiras, além de definir a posição estratigráfica da ocorrência
na Formação Sambaíba e apresentar novas possibilidades
paleoambientais para a unidade na região onde ocorre, o que permitirá
compreender e interpretar o ambiente existente quando o estrato
sedimentar se formou.