*Tania Fontolan
O mundo de hoje não é o mesmo de 10 anos atrás, mas a educação evoluiu pouco nos últimos 100 anos. No último ano, a digitalização imposta pela pandemia derrubou vários dogmas e acelerou uma atuação das escolas mais alinhada com as necessidades do mundo atual. É preciso que os jovens de hoje estejam preparados para atuar com segurança e consistência neste ambiente de transformações repentinas, que exige flexibilidade e agilidade. Mais do que isso, é preciso incluir entre as finalidades de formação, a preparação para utilização autônoma e responsável dos meios digitais.
A chegada da pandemia evidenciou a importância dos professores e da escola na vida dos estudantes e de suas famílias. E o ambiente virtual permitiu que a educação não parasse em um momento sensível, marcado pelo isolamento, medo e insegurança. Este período ajudou a ressignificar o papel do professor, que ganhou outros contornos.
Na pandemia, muitos docentes não somente utilizaram os recursos digitais como meio de transmissão de aulas, mas foram muito além: guiaram as crianças e jovens entre os recursos tecnológicos de aprendizagem, apresentaram novas fontes de informações digitais, que ampliaram a formação e o entendimento sobre os temas. Como mediadores, professores foram além: criaram estratégias que tornaram os próprios meios digitais em objetos de aprendizagem. E, dessa forma, estimularam os alunos a criarem suas próprias estratégias e caminhos para a resolução de desafios, com raciocínio e soluções práticas. Se a vida social, cada vez mais, incorpora os recursos tecnológicos como meios para solução de problemas, as escolas e os professores emularam a vida social, incorporando esses recursos às rotinas didáticas e aos objetivos de aprendizagem.
Diante disso, famílias, alunos e professores se deram conta da relevância dessas transformações. Perceberam que a tecnologia pode imprimir dinamismo ao trabalho da sala de aula, criar uma comunicação mais próxima com as famílias, motivar os estudantes em sala de aula e fora dela, ampliando seus horizontes desenvolvendo suas habilidades de aprendizagem autônoma e resolução de problemas.
No entanto, o retorno às atividades presenciais guardou um desafio. Professores que utilizaram a tecnologia apenas como meio de transmissão de aulas – e não como recursos de potencialização de aprendizagem, podem se sentir tentados a voltar a um modelo antigo – analógico. O entendimento da necessidade de incorporação de recursos digitais como meio, mas também como objeto de formação, requer preparação docente: sobre a existência dessas novas ferramentas, seu alcance e sobre suas possibilidades de utilização. Mesmo professores já praticantes da incorporação do digital à sua prática precisam se manter atualizados, uma vez que novos recursos são criados com frequência. Nesse processo, que requer agilidade e adaptabilidade, a formação continuada tem um papel central apoiando os docentes e os gestores das instituições de ensino nessa jornada.
A este cenário de atualização tecnológica some-se a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). As escolas precisam adaptar seu currículo e suas práticas até 2022. A BNCC coloca o aluno como protagonista na busca de informações e ampliam a presença da tecnologia no ensino. Para atualizar as metodologias de ensino e corresponder às orientações da BNCC será preciso aperfeiçoar as práticas educativas, o repertório didático e os objetivos de formação dos alunos.
Todos esses desafios de atualização se tornam ainda mais complexos quando observamos o cenário educacional brasileiro. De acordo com o Censo Escolar de 2019, produzido pelo INEP, cerca de 40% dos professores que atuam no ensino médio, nas escolas brasileiras, não têm formação adequada nas disciplinas que lecionam.
Portanto, a demanda atual começa com a qualificação básica e a ela e adiciona outras capacidades que precisam ser desenvolvidas nos docentes: atualização em relação aos temas do mundo, entendimento da evolução das práticas pedagógicas e das novas tendências educacionais, capacidade para atuar nesse cenário.
A formação continuada pode suprir algumas das lacunas que o Censo apontou e, principalmente, ir muito além disso: preparar o professor para enfrentar a jornada de transformação digital, incorporando tecnologias às suas aulas e renovando suas metodologias de ensino. Formar um bom professor – e mantê-lo continuamente atualizado – inclui prepará-lo para orientar seus alunos para que aprendam a aprender com autonomia, em meio às transformações constantes e exponenciais. Este é um processo estruturado e complexo, que exige do docente flexibilidade, empatia, resiliência e, acima de tudo, uma abertura para entender esse mundo que emerge, atuando com o olhar para o futuro. E demanda das escolas e dos sistemas de ensino – públicos e privados – um entendimento da importância desse e principalmente – ações práticas para viabilizá-lo.
*Tania Fontolan, é diretora pedagógica da Somos Educação
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