Há 11.200 anos, a castanha-do-brasil era gênero de primeira necessidade. A prova está nas pesquisas realizadas na caverna Pedra Pintada de Monte Alegre, no Pará. Mas quem primeiro escreveu sobre as sementes, caprichosamente guardadas num “ouriço” duríssimo, foi frei Cristóvão de Lisboa, por volta de 1630.
Padre João Daniel, que viveu na Amazônia 110 anos depois, também registrou suas impressões sobre o fruto. Os religiosos concordavam em ao menos um aspecto: a ingestão exagerada provocava queda de pelos e cabelo. Só mais tarde detectou-se um sintoma da selenose. Desde o século 20, não há qualquer relato que associe o consumo de castanha-do-brasil à calvície – ou à depilação. Pelo contrário, o uso moderado está estreitamente relacionado à boa saúde.
A castanha-do-brasil é um dos alimentos mais ricos em selênio. O potente antioxidante protege as células contra os radicais livres, responsáveis, entre outros fatores, pelo envelhecimento. A selenose, que tanto chamou a atenção dos dois religiosos, não era privilégio dos humanos, mas também de macacos e outros animais que consumiam as sementes em demasia.
A castanha tem de 12% a 17% de proteínas; na farinha do fruto, sem gordura, há 46%. Na carne de gado, o teor varia entre 26% e 31%. Em 100 g da semente, são 61 g de gordura, 2,8 mg de ferro, 180 mg de cálcio e 4,2 mg de zinco. Fósforo, potássio e vitamina B também entram na composição.
A castanha-do-brasil foi chamada de anhaúba pelo frei Cristóvão de Lisboa. No século 17, quando começou a ser exportada, tornou-se castanha-do-maranhão. Mais tarde, pela primazia da produção no estado do Pará, recebeu outro nome: castanha-do-pará.
Nativa das Guianas, da Venezuela, do leste da Colômbia, do Peru e da Bolívia, a castanheira-do-brasil sobrevive em grupamentos de 50 a 100 exemplares espalhados pelas grandes florestas às margens dos rios Amazonas, Negro, Orinoco, Araguaia e Tocantins. No Brasil, ocorre nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará e de Rondônia.
Imponente, atinge entre 30 m e 50 m de altura e se mostra ao longe na Floresta Amazônica. Algumas árvores podem chegar a 60 m. Estima-se que esses exemplares tenham mais de 80 anos e mesmo assim apresentam boa produção de frutos.
As flores, esbranquiçadas ou levemente amareladas, têm seis pétalas livres. O formato peculiar da flor não facilita em nada o acesso de insetos pequenos e médios. O trabalho de polinização, então, cabe a grandes abelhas.
Se as flores se desenvolvem plenamente sob o sol, a produção e a queda dos frutos coincidem com o período de chuvas.
A cutia (Dasyprocta leporina), que ocorre na Amazônia, é dos poucos animais que conseguem romper a casca com os dentes para se alimentar dos frutos. É hábito do roedor enterrar as sementes para comê-las mais tarde. É fato também que as castanhas esquecidas pela cutia têm grandes chances de germinar e tornarem-se mudas.