Com aumento do cerco em São Luís, facções criminosas começam a migrar para cidades da região e lideram crimes em Viana e São Bento. Recrutamento de jovens gera medo na população.
Duas facções criminosas detêm o comando do tráfico de drogas e homicídios em São Luís, o Primeiro Comando do Maranhão (PCM) e o Bonde dos 40. Os dois grupos rivais, que surgiram de disputas entre criminosos da capital do estado e do interior por pontos de venda de drogas em São Luís, hoje encontram em cidades menores do estado uma alternativa para a rota de tráfico, homicídios e assaltos.
De acordo com o delegado de Pio XII, regional de Santa Inês, Ederson Martins, foi registrado um assalto à agência dos Correios no segundo semestre de 2015 por um suposto participante do PCM, mas não foi confirmada a ligação. A suspeita, entretanto, sinaliza a migração do crime organizado para o interior do estado.
Já na Baixada Maranhense a atuação de criminosos ligados o PCM tem gerado um novo mapa do tráfico de drogas no estado. Segundo o delegado regional de Viana, Jorge Pacheco, a incidência de crimes envolvendo participantes do crime organizado tem aumentado nos últimos anos, abrangendo toda a Baixada Maranhense, e municípios como Lago da Pedra, São Bento e Viana.
“A maioria dos crimes ligados às facções na Baixada são praticados por pessoas ligadas ao PCM. Em janeiro, por exemplo, prendemos um traficante conhecido na região como ‘Batista’, que assaltou os Correios de Viana”, conta o delegado.
Pacheco relatou ainda que medidas estão sendo tomadas para combater a migração do crime organizado, mas que o contato de presos “comuns” com membros de facções nos presídios da capital cria uma rede de filiação praticamente obrigatória.
“Os presos do interior ao chegar em Pedrinhas se filiam ao PCM ou ao Bonde (dos 40). Eles têm que escolher um lado e ao voltar para o interior chegam conhecendo os métodos do crime organizado”, relatou o delegado.
A maioria dos crimes diz respeito ao tráfico de drogas, com maior foco no crack, homicídios e assaltos, envolvendo também menores de idade. Segundo a Polícia Civil, o efetivo de policiais, delegados e investigadores tem sido reforçado em todo o interior do Maranhão.
“Temos um problema sério a ser combatido na Baixada, mas também em todo o interior. Cerca de 30 delegados e 50 investigadores reforçarão a atuação nos municípios com maiores índices de crimes relacionados à facções”, completa Jalingson Freire.
Prisões de membros
Em 2015, sete pessoas foram presas em Penalva e tinham ligação direta com o Primeiro Comando do Maranhão, entre elas Wesley Rodrigues, de 27 anos, e Rafael Nogueira Moreira, conhecido como “Léo”, de 28 anos, líder do PCM no bairro da Cidade Olímpica, em São Luís. Os demais são moradores de povoados próximos e também do município de Penalva.
“Após a efervescência dos ataques à capital, O PCM e o B40 estão buscando, desde 2014, mais espaço no interior do estado, onde temos efetuado prisões em vários municípios. Há uma concentração maior na Baixada, mas estamos tomando medidas de combate a esses núcleos”, relata um dos delegados que atuam na SPCI, Jalingson Alan Freire.
De acordo com a polícia maranhense, o fenômeno é parecido e uma consequência direta do combate ao crime em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. “Os membros de facções grandes do país migraram para do Nordeste e em consequência desse contato com os criminosos de São Luís o crime do estado se especializou”, reflete o delegado Freire.
“Já esse ano foram presos dois criminosos que assaltaram uma agência dos Correios em Viana e mais um em Pinheiro, também por assalto aos Correios. Já no carnaval de Penalva, foram efetuadas as prisões de mais cinco ligados ao PCM”, enumera o delegado assistente.
Recrutamento de adolescentes preocupa população
Familiares de adolescentes e jovens recrutados pelo crime organizado no interior do Estado levam uma rotina de medo, recusando-se a falar sobre o envolvimento dos filhos com as facções e o uso de drogas como o crack, principal fonte de renda do crime organizado no Maranhão, segundo a polícia.
Relatos de conselheiros tutelares de cidades como Vitória do Mearim e Penalva indicam um aumento no número de jovens que começam a usar drogas ainda no começo da adolescência.
“Temos acompanhado cada vez mais jovens com problemas com drogas pesadas aqui na Baixada. Eles começam com 12, 14 anos, meninos e meninas já estão viciados e envolvidos com criminosos, muitas vezes são expulsos de casa e as famílias não querem falar sobre isso, por medo dos bandidos. Há uns cinco meses, temos percebido que a quantidade de meninas usando drogas está aumentando”, conta Nezildo Vale, que atuou por dez anos conselheiro tutelar em Vitória do Mearim.
Segundo o conselho tutelar de Penalva, o município tem sido um dos mais afetados com a migração do crime organizado e o recrutamento de jovens. A conselheira Elimar Gama conta que o número de homicídios de adolescentes tem crescido na cidade por conta desse processo.
“Os adolescentes entram cedo, 14 anos já estão viciados, passam a vender drogas, são os aviões, também passam a assaltar para pagar o que consomem. Quando não pagam são mortos pelos donos de boca”, explica a conselheira. “Esse mês recebemos uma denúncia que um casal de jovens mora com o bebê em uma boca de fumo. O bebê está exposto, inalando fumaça e outras coisas. A mãe é uma adolescente”.
O envolvimento de jovens da baixada com o crime organizado é confirmado pelo delegado de Viana, Jorge Pacheco. “A facção (PCM) tem recrutado adolescentes de 14, 16 anos. Eles se aproveitam que a lei é mais branda com menores”, comenta Pacheco.
A delegada Naiana Chaves, titular da Delegacia do Adolescente Infrator de Caxias, na região dos Cocais, confirma a tese do recrutamento de adolescentes, principalmente após cometerem alguma infração.
“Ainda não vemos adolescentes sendo recrutados nas ruas, mas quando cometem uma infração e são levados para São Luís entram em contato com outros que já são filiados ao Bonde ou ao PCM, quando voltam para Caxias eles contam que são obrigados a escolher um lado. O contato dos adolescentes infratores com o crime organizado infelizmente acontece dentro do sistema de apreensão”, disse Chaves.
informação é confirmada pelo delegado assistente da Superintendência de Polícia Civil do Interior, Jalingson Freire. “Os adolescentes comentem infrações e uma vez em contato com presos reincidentes são convencidos à se filiar as facções, é uma escalada dentro do crime”.
Ainda de acordo com a Superintendência de Polícia Civil do Interior (SPCI), o trabalho de combate ao crime organizado na capital desarticulou os grupos que agora deslocam núcleos para cidades como Lago da Pedra, Zé Doca, Viana, Penalva e Arari. Fonte:blogluiscardoso.