Como acalmar uma criança com autismo?

 Psicopedagoga Luciana Brites, CEO do Instituto Neurosaber

Dados publicados neste ano pelo órgão de saúde americano Centers for Disease Control and Prevention (CDC) mostraram que 1 a cada 36 crianças americanas com menos de 8 anos têm autismo. Em 2000, a prevalência era de 1 em 150. No Brasil ainda não temos estes dados, pois o Censo 2022 foi a primeira pesquisa que vai quantificar pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e esses dados ainda não foram divulgados.

O autismo tem causas genéticas e ambientais. Além disso, ele é poligênico, ou seja, mais de um gene é afetado. Crianças com TEA normalmente têm dificuldades em lidar com as emoções. Logo, para os pais vira um desafio acalmar o pequeno.

Pais de crianças típicas ou atípicas em algum momento já enfrentaram uma birra ou teimosia do seu filho. Há diferenças entre birra e uma crise no autismo. As birras são manipulações para conseguir o que deseja.

As crises no autismo ocorrem em decorrência de respostas a sensação de sobrecarga sensorial, emocional ou comportamental por atraso de desenvolvimento e incompreensão das relações e imposições sociais. Elas saem fora de um controle razoável, podendo acontecer em qualquer faixa etária e sendo mais intensas e duradouras do que as birras.

Crises podem apresentar alguns sinais de alerta que são exteriorizadas pelo acúmulo de emoções descontroladas e sem o devido filtro social. Manifestam-se por gritos, instabilidade de humor, movimentos repetitivos, autoagressividade, automutilações, entre outras ações. Estes sinais são um alerta de que se está perdendo o controle.

Administrar as crises em crianças com autismo não é uma tarefa fácil, pois, diferentemente das birras, as crises são mais complexas e de diversas naturezas. Logo, é necessário tempo e estratégias para que os pais e cuidadores saibam gerir tal problema e acalmar a criança.

Os sinais que precedem uma crise em geral são muito claros para os pais de autistas e por isso é possível detectar o início com antecedência. Se o pequeno ficar mais retraído ou tenso, apresentar instabilidade emocional e determinados movimentos corporais, isso é um sinal de alerta. Outro ponto: devemos conhecer muito nossos filhos para nos antevermos e anteciparmos meios de prevenção.

Deve-se também estar atento à mudança de foco. Ao detectar algum sinal de alerta para uma crise, distraia a criança. Assim, você está direcionando o foco para outra situação a fim de evitar o aumento das emoções. Direcione a atenção dela para um brinquedo, personagem ou estímulos que normalmente a acalmam.

Tente manter-se calmo nesse momento. Passar segurança e tranquilidade é uma das chaves para acalmá-la e permite ao cuidador um manejo inteligente. Por esse motivo, respire fundo, fale tranquilamente e com a voz baixa e seja paciente.

Muitas vezes, o gatilho de uma crise pode ter sido gerado pelo ambiente em que o pequeno se encontra, mudanças de lugares, ações inesperadas ou súbitas. Outras vezes, a culpa não foi do ambiente em si. Porém, em ambas as situações a mudança de ambiente para um que o satisfaça é válida. Desse modo, quando for possível, procure um local mais tranquilo para que seu filho tenha estímulos relaxantes.

Autista gosta de rotina. Manter uma rotina regular e com estabilidade auxilia de maneira positiva o desenvolvimento e a vivência. Apesar de ser praticamente impossível ter uma rotina todos os dias, e além de ser importante ter uma certa flexibilidade no cotidiano, uma programação previsível conforta o dia da pessoa com TEA.

Para estabelecer uma rotina saudável para a criança autista, a família também precisa estar unida para proceder da melhor forma, além de incluir a escola e os profissionais envolvidos. Além disso, caso ocorra mudanças na rotina, procure avisar o pequeno com antecedência ou fazê-lo presenciar antes a experiência como passeios, viagens, férias, entre outros.

(*) Luciana Brites é CEO do Instituto NeuroSaber (https://institutoneurosaber.com.br), autora de livros sobre educação e transtornos de aprendizagem, pedagoga, palestrante, especialista em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UniFil Londrina e em Psicomotricidade pelo Instituto Superior de Educação ISPE-GAE São Paulo, além de ser Mestra e Doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento pelo Mackenzie.

Agência Drumond – Assessoria de Comunicação

Joyce Nogueira