Um terço dos aposentados acima de 60 anos ainda trabalha, revela pesquisa do SPC Brasil.

Três em cada dez idosos chegaram a essa fase da vida sem terem se preparado para a

aposentadoria; pesquisa mostra algumas dificuldades, mas 66% dos idosos têm uma

visão positiva sobre a terceira idade.

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Além de ver a expectativa de vida aumentar nos últimos anos, um número elevado de

brasileiros continua trabalhando mesmo após a aposentadoria. A constatação é de uma

pesquisa realizada em todas as capitais pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC

Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com idosos acima

de 60 anos. De acordo com o levantamento, mais de um terço (33,9%) dos idosos que já

estão aposentados continuam exercendo alguma atividade profissional. O destaque fica

por conta dos profissionais autônomos (17,0%), trabalhadores informais ou que fazem

bicos (10,0%) e profissionais liberais (2,1%). Os que ainda atuam como funcionários da

iniciativa privada, contudo, são apenas 1,7% do total de entrevistados. Considerando os

aposentados que tem entre 60 e 70 anos, o percentual dos que trabalham sobe para

42,3%.

A decisão de seguir trabalhando a esta altura da vida está relacionada, principalmente, à

necessidade financeira, embora essa não seja a única razão. A principal justificativa é o

complemento da renda, uma vez que a aposentadoria não é o suficiente para pagar as

contas (46,9%). Dois em cada dez (23,2%) idosos continuam trabalhando para manter a

mente ocupada e 18,7% para se sentirem pessoas mais produtivas na sociedade. Há

ainda 9,1% dos idosos que alegaram não ter parado de trabalhar para poder ajudar os

familiares financeiramente.

Idosos que trabalham sentem satisfação e orgulho por continuarem ativos

O fato de ainda trabalharem mesmo sendo aposentados gera sentimentos positivos em

70,7% dos idosos como satisfação pessoal (38,8%) e orgulho (19,7%). Para os que

avaliam o trabalho nessa idade como algo negativo (28,3%), os sentimentos mais

compartilhados são o de indignação (9,3%) e cansaço (8,1%).

A ampla maioria dos idosos (76,1%) até consegue se satisfazer financeiramente com a

renda que possui, mas em 42,0% dos casos trata-se da “conta certa”. Ou seja, o dinheiro

serve apenas para cobrir os gastos mais importantes. Em sentido contrário, quase um

quarto (23,4%) dos idosos entrevistados admitem que com a renda atual não conseguem

atender todas as suas necessidades. Ainda assim, nove em cada dez (95,7%) idosos

contribuem ativamente para o sustento financeiro da casa, sendo que em mais da metade

dos casos (59,7%) eles são os principais responsáveis. De modo geral, a aposentadoria e

o recebimento de pensão (74,6%) são a principal fonte de renda dos idosos brasileiros,

neste caso incluindo aqueles que estão aposentados ou não.

35% chegaram a aposentadoria sem terem se preparado

Um dado preocupante do estudo e que, em certo modo, explica o fato de tantos idosos

ainda se sentirem na necessidade de trabalhar, é 35,1% dessa população acima de 60

anos chegaram a terceira idade sem ter se preparado para a aposentadoria. No caso das

mulheres e dos idosos das classes C, D E, o percentual é ainda maior: 39,5% e 41,5%,

respectivamente.

Seis em cada dez (61,5%) idosos entrevistados fizeram algum tipo de preparo e as

principais atitudes foram a contribuição compulsória do INSS pela empresa em que

trabalhavam (40,8%) e o pagamento do INSS por conta própria (17,4%). Uma parcela

reduzida de apenas 8,4% teve o cuidado de investir na previdência privada. Outros tipos

de preparo ainda mencionados, mas com menos intensidade, foram o depósito na

poupança (4,5%) e o investimento em imóveis (4,4%) – neste último caso, não se leva

em consideração o imóvel em que o entrevistado reside. Para a economista-chefe do

SPC Brasil, Marcela Kawauti, “é sempre importante lembrar que a contribuição

compulsória para o INSS via empresa não pode ser considerada uma preparação

suficiente para atravessar a terceira idade sem grandes dificuldades. Contar somente

com a previdência pública é algo bastante temerário e que deve ser evitado”, alerta a

economista.

A maior parte dos idosos que se prepararam para uma aposentadoria tranquila disse que

o fizeram por serem pessoas precavidas (31,6%). Há ainda aqueles que foram intuitivos

e tiveram a iniciativa por conta própria, sem contar com a influência de terceiros

(15,0%) e os idosos que se prepararam porque viram casos de pessoas próximas que não

tiveram o mesmo cuidado e acabaram passando por momentos difíceis neste estágio da

vida (12,3%).

Quando indagados se o padrão de vida que possuem atualmente é melhor ou pior do que

quando eles tinham 40 anos, a população idosa mostra-se dividida, com uma leve

vantagem para os mais otimistas. Quatro em cada dez (39,6%) idosos avaliam viver

melhor hoje do que no passado, enquanto 32,3% acreditam que a passagem do tempo

também trouxe piora nas condições de vida, sentimento presente com mais força entre

os idosos que pertencem à classe C (36,1%).

De acordo com o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, o aumento da

expectativa de vida dos brasileiros impõe uma série de mudanças nos hábitos

financeiros. “Com as pessoas vivendo cada vez mais e fazendo planos para novas

conquistas, torna-se fundamental estar preparado financeiramente para essa nova fase.

Além disto, os tratamentos de saúde são onerosos e costumam aumentar com a terceira

idade”, afirma Vignoli.

Quatro em dez idosos não controlam as finanças; 11% delegam a função a

terceiros

A pesquisa do SPC Brasil também investigou os hábitos de vida financeira dos idosos

brasileiros e descobriu que apenas 42,7% admitem fazer um controle sistemático de

suas finanças pessoais, adotando métodos como anotações regulares em caderno

(33,8%), uso de planilhas (7,9%) ou de aplicativos digitais (1,0%). Os idosos desatentos

com o orçamento somam 45,9% do total da amostra, sejam porque usam métodos pouco

confiáveis como fazer tudo de cabeça (32,1%) ou simplesmente por não terem qualquer

tipo de controle daquilo que é gasto (13,8%). A pesquisa mostra ainda que 11,5% dos

idosos delegam a terceiros a tarefa de cuidar das finanças.

Para quem não controla o fluxo de receitas e despesas, as principais razões são não ver

necessidade ou importância nessa tarefa (33,6%), seguido da falta de hábito e de

disciplina (14,8%). O desconhecimento é citado por somente 9,1% da amostra de idosos

entrevistados.

Gastos com alimentação (82,9%), compromissos com serviços de luz (73,6%) e

telefonia (47,2%), além de despesas com produtos de higiene (44,0%) e saúde, tais

como remédios, exames e médico (41,2%) são os mais frequentes entre os brasileiros

que têm acima de 60 anos, de acordo com o levantamento.

Diminuição da renda e empréstimo de nome faz idoso atrasar contas e ficar

inadimplente

Nos últimos 12 meses, três em cada dez (30,1%) idosos brasileiros deixaram de pagar

ou pagaram alguma conta com atraso – principalmente as de luz (13,9%), cartão de

crédito (7,5%), telefone (6,9%) e água (6,7%). O índice é semelhante ao percentual de

pessoas acima de 60 anos que tiveram o CPF inscrito em cadastros de inadimplentes no

último ano: 30,3% da amostra, sendo que 13,9% ainda se encontram nessa situação. A

diminuição da renda (22,5%) lidera entre as principais razões que levaram à

inadimplência, seguida do empréstimo de nome a terceiros (12,2%) e da falta de

planejamento e gastos excessivos (11,7%). Pelo menos uma vez a cada três meses, o

limite do cheque especial e do cartão de crédito, além de empréstimos, acabam sendo a

estratégia adotada por 7,2% dos idosos para fechar as contas.

66% dos idosos têm visão positiva sobre a terceira idade. Nota média de felicidade

é de 8,2

A pesquisa revela que mesmo com algumas dificuldades inerentes a terceira idade, a

maioria dos idosos brasileiros encara essa nova fase da vida com entusiasmo, sobretudo

como uma etapa em que ainda se pode trabalhar e concretizar planos. A nota média

autoatribuida pelos idosos para felicidade nesta atual fase da vida é de 8,2 pontos – entre

as mulheres a nota sobe para 8,5.

De acordo com o levantamento, seis em cada dez (65,8%) idosos entrevistados têm uma

percepção positiva sobre estar na terceira idade, sendo as principais vantagens terem a

sensação de dever cumprido (20,0%), ter sabedoria (16,0%) e dispor de tempo para

fazer o que gosta aproveitando a vida (15,3%). Os idosos que têm uma percepção

negativa sobre a velhice somam 30,8% e os problemas mais associados são a perda da

saúde (11,9%), a dependência de outras pessoas (5,4%) e o fato de serem

frequentemente desrespeitados pelos mais jovens (5,3%).

89% da população acima de 60 anos têm planos para o futuro; 34% já sofreram

preconceito por causa da idade

Engana-se quem imagina que nesta fase as pessoas se acomodam e deixam de ter

objetivos e sonhos. O dado é alto e impressiona: 89,0% dos idosos garantem ter algum

plano para os próximos cinco anos, sendo que os mais desejados são aproveitar a vida

ao lado da família e amigos (47,3%), viajar pelo Brasil (23,5%), reformar a casa própria

(17,6%), deixar os filhos bem financeiramente (16,9%) e pagar as dívidas (16,6%).

Otimistas, 69,2% dos entrevistados esperam viver mais de 90 anos.

A passagem do tempo, contudo, não deixa de impor certos efeitos físicos e na mante: a

maior parte dos entrevistados (71,7%) afirma vivenciar limitações no dia a dia que não

sentiam quando eram jovens, sendo que 28,5% evitam fazer algumas atividades por

conta disso. Em contrapartida, 43,2% não deixam de fazer suas tarefas do dia a dia em

função dessas dificuldades. Os idosos que reconhecem ter a mesma produtividade que

na juventude somam 26,5% da amostra.

Ainda que a representatividade dos idosos venha aumentando significativamente na

população brasileira, e que essas pessoas sejam cada vez mais ativas, muitos ainda

enfrentam preconceito por causa da idade. Mais de um terço (33,9%) dos idosos

brasileiros já sentiram na pele algum caso de discriminação, independentemente da

classe social e gênero.

Metodologia

Foram entrevistados 619 consumidores com idade acima de 60 anos de ambos os

gêneros e de todas as classes sociais nas 27 capitais brasileiras. A margem de erro é de

no máximo 3,9 pontos percentuais para um intervalo de confiança a 95%. Isso significa

que em 100 levantamentos com a mesma metodologia, os resultados estarão dentro da

margem de erro em 95 ocasiões.