De plantão na noite deste dia 1ª, o policial Civil Leonício S. Silva se viu frustrado diante das condições de precariedade de trabalho que, segundo ele, encontram -se tanto a Polícia Civil quanto a Militar. Em seu texto, expõe que é “desigual” o embate com bandidos na hora do confronte. “Não se compara poder de fogo de pistolas com poder de fogo de fuzis. Não se compara poder de locomoção de automóveis com poder o de locomoção de camionetas. O que ocorre é que, para tamanha ousadia, os criminosos conhecem a fragilidade da nossa estrutura de Polícia”, escreve, aparentemente indignado.
Leia o texto na íntegra:
ATENÇÃO: LEIA E REFLITA
Após os acontecimentos desta terça feira, 01 de março, na cidade de Araguatins – TO, quero convocar para uma reflexão toda a população do Bico do Papagaio e, em especial, as autoridades políticas locais e estaduais. O que ocorreu foi algo extremamente cinematográfico, coisas que só tínhamos visto até então nos filmes de Hollywood. Bandidos fortemente armados tomaram a cidade. Fizeram um cerco à 4ª Companhia da Polícia Militar, tomaram civis como reféns, explodiram o Banco do Brasil e, apenas heroicamente, a Polícia foi para o confronto. Mas sem as mínimas condições para esse confronto desigual.
Desigual porque os bandidos estavam altamente equipados para um confronto. Armados com armamento pesado, veículos potentes, arsenal de guerra. Enquanto a Polícia estava equipada com armas de médio e baixo calibre. Porque não se compara poder de fogo de pistolas com poder de fogo de fuzis. Não se comparara poder de locomoção de automóveis com poder de locomoção de camionetas. O que ocorre é que, para tamanha ousadia, os criminosos conhecem a fragilidade da nossa estrutura de Polícia. Sabem que não podemos competir com eles. E por isso se sentiram superiores, e o foram. Moramos numa região de fronteira, entre dois estados em que a criminalidade ainda impera potentemente.
Não podemos mais brincar de Polícia, não podemos mais brincar de Segurança Pública. Estamos perdendo a guerra para a criminalidade. Se não tivermos precauções, daqui a pouco não teremos condições de fazer nem o básico da Segurança Pública. Não temos estradas de qualidade para uma rápida locomoção. Não temos viaturas suficientes nem apropriadas para perseguições. Não temos armamento combativo, nem proteção para nossa segurança. Estamos entre dois grandes rios, e não dispomos de embarcação para fazer um trajeto por água. Sorte do Policial Militar que foi atingido nas costas e seu colete resistiu ao impacto. Esse não estava vencido. Mas a maioria dos coletes que temos está fora do prazo de validade.
Nem sequer temos munição suficiente para um confronto de alto risco. Eu sou Policial Civil, estava de serviço de plantão. Na hora de ir para o confronto, não me faltou coragem. Mas faltaram condições ideais para o combate. Dispunha de uma pistola .40, coletes vencidos, um veículo Gol para cinco ou seis pessoas. Lamentei não poder ir, mas realmente não o pude. Tive que me contentar em torcer para aqueles que estavam na linha de fogo não serem fatalmente atingidos. E graças a Deus nenhum companheiro de profissão se feriu gravemente.
Mas fica aí uma preocupação, A ousadia, quando dá certo, se transforma em rotina. É preciso, urgentemente, melhorar as condições humanas e estruturais para que a Polícia da região esteja preparada para proteger a sociedade e as instituições. Mas da forma que está, estamos brincando de ser Polícia, enquanto os bandidos não estão brincando de ser bandidos. Espero veementemente que todos possam refletir sobre isso. Ninguém pensa em Polícia até precisar de Polícia. Mas fica claro, mas ainda, que a Polícia é uma instituição fundamental para a paz e a segurança da sociedade. Mas para isso, precisa ser valorizada e equipada adequadamente para poder fazer bem o seu trabalho.