Por Dijé Guedes
Especial para O PROGRESSO
O prefeito eleito de Imperatriz, Francisco de Assis Ramos, em uma conversa franca para produção desta matéria, falou de suas perspectivas, projetos e desafios que envolvem a gestão municipal. A julgar pelo tom das afirmativas, o futuro gestor demonstra otimismo, grande potencial de articulação política, disponibilidade para enfrentar desafios, mas, sobretudo cautela, bom senso e pulso firme para administrar, de forma democrática e austera, a segunda maior cidade do Maranhão.
DG – Dr. Assis, depois de um exaustivo processo eleitoral que lhe consagrou vitorioso, começa agora a transição no governo. Que resultado o Sr. espera desse processo democrático?
Assis Ramos – Espero que a gente tenha um diagnóstico de toda a situação do município, com relação ao passivo, ao ativo, a questão dos recursos humanos, os convênios, os contratos em andamento, pra gente ter uma noção de como estar a gestão do município e realmente procurar fazer aquilo que possa otimizar a gestão. Queremos começar em 2017 com o pé direito para que a população não sinta nenhum choque negativo de gestão. Para isso, é necessário um trabalho de muita coleta de dados pra gente saber exatamente como o município estar. Temos uma noção superficial da realidade, mas vamos adentrar com mais profundidade nessa questão.
DG – Imperatriz tem alguns problemas considerados crônicos, como por exemplo, a precariedade do sistema de saneamento básico e a superlotação do Socorrão. Como o Sr. pretende resolver ou amenizar esses problemas?
Assis Ramos – O saneamento básico é dos principais problemas por estar ligado diretamente à saúde, é necessário que tenhamos uma boa relação com os governos Estadual e Federal pra conseguirmos recursos pra que saneamento seja feito. Temos aí só 25% numa cidade relevante nacionalmente, resolver isso é prioridade, mas pra fazermos custa caro. Minhas idas pra Brasília é justamente tentando trazer recursos pra agente atuar no saneamento básico que foi uma das bandeiras da nossa campanha.
DG – O Socorrão tem uma demanda (comprovada) de cerca de 80% de pacientes provenientes de outras cidades. Com isso, Imperatriz acaba pagando o ônus na qualidade da assistência. Como solucionar isso?
Assis Ramos – A saúde é universal, deixar de atender é complicado. Temos que fazer com que esse fluxo de pacientes que vem de outras cidades tenha um retorno pecuniário para imperatriz. Não podemos pagar essa conta sem ela ser minimizada por esses municípios que emanam esse fluxo de pacientes. Temos que mandar essa conta para o município respectivo. Agora, tudo isso deve ser feito com calma e com a anuência do Ministério Público.
DG – O Sr. tem uma curta experiência como gestor no setor público, chefiou algumas dezenas de delegados e outros servidores da segurança pública. Como pretende lidar com um contingente de 7 mil e 200 servidores (só efetivos), sendo a maioria organizada por sindicatos?.
Assis Ramos – Tem que ter diálogo. As categorias anseiam por seus direitos e lutam por eles, eu sei disso porque também sou servidor público, mas,não podemos esquecer que o município tem suas limitações financeiras e orçamentárias. É necessário diálogo pra gente ir avançando aos poucos.
DG – O servidor será valorizado em sua gestão?
Assis Ramos – Sim, na medida em que o município pode arcar. Não vou dizer aqui, nem disse na campanha, que resolveremos todos os problemas do servidor, mas vamos avançar, nosso objetivo é avançar.
DG – A Guarda Municipal foi uma das principais propostas de sua campanha. Vai ser implantada?
Assis Ramos – Tem que ser implantada. Eu, como profissional da segurança pública e sabedor de que segurança é dos principais reclames da nossa cidade, não posso deixar de lado essa bandeira.
Implantar a Guarda Municipal não é simples, temos que alocar recursos do Governo Federal, tem que ter certame, cursos de formação, mas temos vias pra isso, através da Secretaria Nacional de Segurança Pública. Além, disso temos os deputados o João Marcelo e Aluízio Mendes, que já se disponibilizaram para isso.
DG – Há previsão de um prazo para implantação da Guarda Municipal?
Assis Ramos – Isso requer um certo tempo, mas acredito que no primeiro ano a gente vai avançar muito. A minha pretensão é que até outubro conseguiremos.
DG – Outro antigo problema que tem contado com a tolerância da população e a “vista grossa” dos governos é o comércio ambulante da Getúlio Vargas. Como evitar a ocupação das calçadas por camelôs?
Assis Ramos – Do jeito que está não pode ficar de jeito nenhum. É uma desorganização total e uma falta de respeito com eles também, que estão abandonados pela gestão pública. Mas nós não podemos tirar os camelôs e colocar, onde? Primeiro tem que ter um local apropriado para alojar todos. Um local, decente, atrativo para o público e localizado naquelas imediações. Se não temos espaço horizontal, podemos criar um espaço vertical como um prédio. Já foi feito isso em Teresina, ninguém aqui vai criar a roda, vamos aplicar aquilo que foi bem feito em outra cidade. Foi resolvido em Teresina, onde hoje o camelódromo, que chamado de shopping da cidade, é frequentado por todas as classes. Aí segue-se o mesmo caminho, temos que conseguir recursos federais pra gente resolver isso.
DG – Falando em recursos federais, qual o saldo das viagens a Brasília, como prefeito eleito?
Assis Ramos – O saldo tá sendo muito positivo. Já conseguimos emendas através do senador João Alberto, vamos conversar com os senadores Roberto Rocha e Edison Lobão e o deputado federal Aluízio Mendes, que são nossos aliados e independente disso, são políticos do Maranhão, portanto, têm que olhar pra região tocantina, que é muito importante, sobretudo para Imperatriz.
DG – O transporte público opera por meio de contrato com o município, ou seja, uma “bomba relógio” prestes a explodir. Como o Sr. pretende enfrentar mais esse desafio?
Assis Ramos – Tem que ter dialogo também. As empresas alegam que não tem como se sustentarem por falta de lucro. O que tá acontecendo? É necessário entrar nessa seara com mais profundidade, verificar problema e tentar resolvê-lo. Preocupado com isso, eu já conversei com o promotor Sandro Bíscaro (Promotoria do Consumidor), marcamos audiência prévia pra evitar que o problema aconteça. Vamos tentar prevenir, porque quem sofre mesmo é a população.
DG – Imperatriz não aguentaria outro “baque” no transporte público; corremos esse risco?
Assis Ramos – Deus me livre de um negócio desses! Eu acompanhei tudo e apesar de não usar o transporte público, sentimos por nossos funcionários e nossos vizinhos. Por isso conversei com o promotor do consumidor, pra ver onde é que estão os gargalos, lógico que ele na função dele e eu na minha como futuro gestor. Também vamos procurar as categorias que fazem o transporte nesse município, as empresas e a Secretaria de Trânsito para não acontecer e o que ocorreu nessa gestão.
DG – A propósito da destinação dos resíduos sólidos, como foi seu encontro com o ministro Sarney Filho?
Assis Ramos – Ele se comprometeu a resolver o problema do lixão, inclusive ele gravou um vídeo que confirma isso. O detalhe é que o município tem que fazer a parte dele. Para resolver o problema do lixo, que são resíduos sólidos, nós temos que ter um plano municipal de gestão e até onde eu sei, não temos esse plano em Imperatriz. Então o primeiro passo é fazer o dever de casa e depois solicitar ao Ministério do Meio Ambiente, que resolva isso.
DG – A disponibilidade do ministro Sarney Filho pode ser considerado um passo à frente?
Assis Ramos – Sim. Já está bem sinalizado, podemos afirmar que foi um dos lucros que nós obtivemos como gestor foi o comprometimento dele em resolver o problema do lixão que é uma vergonha pra nós, em Imperatriz.
DG – A Câmara Municipal teve uma renovação de cerca de 50%. O que o Sr. espera do relacionamento institucional entre Legislativo e Executivo?
Assis Ramos – O relacionamento tem que ser bom. Não tem como gerir um município como Imperatriz sem a câmara a seu favor. Quanto a renovação, eu vejo com bons olhos, vejo bons nomes que foram eleitos, são novas ideias e boas perspectivas, até porque sou um político novo, entro na política agora, como eles também tão entrando agora. Mas, nada contra os que permaneceram, até porque foi a população que votou para eles permanecerem.
DG – As expectativas e articulações agora giram em torno da nova Mesa Diretora da Câmara. Qual será sua postura a despeito disso?
Assis Ramos – Não vou interferir na eleição da Presidência, porque acredito e respeito a autonomia dos poderes. Eles vão resolver e o executivo não vai interferir.
DG – O prefeito Francisco de Assis Ramos vai governar com técnicos ou com correligionários?
Assis Ramos – Técnicos e correligionários. Lógico que dentro de nosso grupo há pessoas técnicas e pessoas de confiança que também são correligionárias. Essas pessoas a gente vai absorver, até porque o secretariado deve ser composto por pessoas da confiança do prefeito, pessoas de conduta ilibada e nosso grupo político tem essas pessoas. Não é porque alguém pediu voto, levantou uma bandeira, que vai fazer com que essa pessoa seja um secretário, mas, principalmente, pela sua capacidade técnica e pela sua conduta.
DG – A Sedes (Desenvolvimento Social) é uma secretaria que lida diretamente com a maior parcela da população. Por que a indicação de Fátima Avelino para esta pasta?
Assis Ramos – Ela foi titular da Sedes em outras gestões, conhece bem essa pasta, é uma vereadora de vários mandatos, portanto, tem a experiência que o cargo exige.
DG – Para muitos, a vitória de Assis Ramos foi uma surpresa. Para o Sr. também foi surpresa?
Assis Ramos – Olha, não é pretensão e nem soberba, mas pra mim são foi surpresa, porque estávamos acompanhando as pesquisas internas e sabíamos que estávamos crescentes. Fizemos caminhadas e mais caminhadas nas ruas, onde a receptividade foi excelente e aquilo não precisa pesquisa, aquilo vai criando aquele ânimo de que a gente pode vencer. Eu via isso nas ruas.
Mas tudo isso sem deixar de observar que existiam adversários bem estruturados, que têm uma história política maior do que a minha e isso não nos dava certeza da vitória, mas não posso dizer que foi uma surpresa.
DG – Vou citar alguns temas, e sugiro que comente com uma frase, ou poucas palavras:
DG – Austeridade na gestão:
Assis Ramos – Crucial, é o mais importante.
DG – Corrupção:
Assis Ramos – É nossa bandeira de combate, corrupção não pode existir. Vou procurar extirpar.
DG – Nepotismo:
Assis Ramos – Nenhum parente meu vai trabalhar na Prefeitura. Faz parte do combate a corrupção.
DG – Imprensa:
Assis Ramos – Relacionamento sempre foi bom como delegado e como gestor da cidade vai melhorar ainda mais.
DG– Mídia:
Assis Ramos – Vamos ampliar, todos os veículos de comunicação tem seu valor e a gente tem que respeitar.
DG – Rio Tocantins:
Assis Ramos – Preocupante, nós temos que combater o desmatamento e outras práticas que prejudicam o rio.
DG – Violência:
Assis Ramos – Outra preocupação grande.
DG – Plano diretor:
Assis Ramos – Expectativa muito grande, tomara que o prefeito conclua ainda este ano.
DG – Cavalo de Aço:
Assis Ramos – Futebol é prioridade nossa, o município tem que ajudar de forma legal e eficaz, não dando migalhas.
DG – Trânsito:
Assis Ramos – Precisa melhorar. Tem que acompanhar a evolução da cidade.
DG – PEC 241:
Assis Ramos – Tem que economizar, tem que frear os gastos exagerados senão vira uma bola de neve.
DG – Pulso firme:
Assis Ramos – Pulso firme é importante, senão você não consegue mudar nada pra melhor.
DG – Só pra descontrair: o Sr. tem nome de papa, sobrenome de santo e patente de delegado. Como será o perfil do prefeito Francisco de Assis Ramos?
Assis Ramos – A gente não pode se distanciar totalmente do delegado nem do religioso. Sou religioso (católico), sou ligado a família, que considero ser o maior bem que o homem pode ter, mas tem que ter firmeza, entendeu? Vou conversar com as categorias, mas vai ter algum momento que a gente vai ter que tomar algumas atitudes firmes. Atitudes que se aproximam muito do delegado, enquanto que o diálogo se aproxima muito da questão religiosa, ou seja, sendo ousado e moderado.