Covardia! Comerciária foi morta a facadas.

Corpo foi encontrado em matagal
Corpo foi encontrado em matagal.

Um homem se apresentou na 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil, na noite desta segunda-feira (21), acompanhado de outras três pessoas, chegando ao local com a cabeça coberta por uma camiseta. Apesar de a Polícia Civil ter negado, pode se tratar de Igor Rafael Almeida Caldas, principal suspeito da morte de Valeria dos Santos Sousa, de 25 anos, cujo corpo foi encontrado na manhã do mesmo dia. Uma fonte ligada à instituição informou que os responsáveis pela investigação aguardavam que o suspeito se apresentasse ainda nesta segunda.

A pessoa que chegou na delegacia passou algumas horas em uma sala, supostamente tendo depoimento colhido, e depois foi liberada. À Reportagem, no local, foi informado que se tratava de outro caso, mas não foram esclarecidos detalhes sobre a situação. Diversos golpes por arma branca foram desferidos contra as costas e tórax de Valeria, causando a morte dela, conforme o resultado da necropsia realizada pelo Instituto Médico Legal (IML) de Marabá também nesta segunda.

O corpo dela foi encontrado por volta das 8 horas no início da vicinal que dá acesso à Vila Landi, próximo do centro urbano de Marabá, mas já localizada na zona rural de São João do Araguaia. A descoberta deu fim a parte do desespero dos parentes de Valéria, que a procuravam desde a última quinta-feira (17), dando lugar à dor da morte. Os familiares acusam, publicamente, o ex-companheiro e pai dos filhos gêmeos de Valéria, Igor Rafael, que a ameaçava constantemente, o que leva a crer que o crime pode ter sido feminicídio.

Valeria dos Santos Sousa
Valeria dos Santos Sousa.

O Poder Judiciário, inclusive, aceitou denúncia contra ele, no último dia 31, referente à violência contra mulher e decretou medida protetiva a favor da vítima, determinando que ele não se aproximasse menos de 300 metros dela. Há informação de que ele deixou a cidade de Marabá na noite de domingo (20).

De acordo com a tia de Valéria, Raimunda de Sousa, a vítima saiu de casa, na Avenida Itacaiúnas, Bairro Novo Horizonte, na tarde de quinta-feira (17), por volta das 16h30. A princípio ela iria comprar lanche para os filhos, de três anos, e em seguida dar carona para o cunhado que sairia do trabalho, porém não apareceu. No dia seguinte, sexta-feira (18), os parentes registraram o desaparecimento na 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil e localizaram no Bairro Cidade Nova a motocicleta na qual a vítima havia saído de casa.

“Estava a moto estacionada e o aparelho celular dela no bagageiro. Quando postamos a placa nas redes sociais um policial militar entrou em contato informando que tinha abordado uma pessoa sentada em cima desta moto na madrugada anterior, mas a pessoa informou que não era a proprietária e que só estava sentada lá. Fomos conferir e era a moto”, relatou. A partir daí, diz, os familiares já não tinham mais esperanças em encontrar a mulher viva e já haviam repassado à Polícia Civil a desconfiança acerca do suspeito.

No sábado (19) Igor foi intimado à 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil para depor e informou aos familiares da ex-companheira, no local, que havia visto Valéria no dia em que ela desapareceu. “Ele disse que tinha mandado mensagem pra ela ir no serviço dele buscar um dinheiro e disse que deu R$ 1 mil pra ela, mas é mentira porque ele não dava nada para ela, ele não ajudava os filhos. Meu irmão (pai da vítima) que sempre bancava tudo”, afirmou a tia.

Conforme Raimunda, Igor passou o dia na delegacia, mas foi liberado à tarde porque, acrescenta, a Polícia Civil informou não ter como mantê-lo preso. “Há vários vestígios, ele está com uma mordida no peito, está arranhado. Ele é o principal suspeito. Ela sempre travava luta com ele. Sempre que ele tentava agredir ela, ela se defendia e quando ela não estava sozinha ele não conseguia, mas dessa vez ele conseguiu”, desabafou.

Após isso, os familiares solicitaram apoio do Corpo de Bombeiros e da Guarda Municipal, com uso de cães farejadores, para realizar buscas em áreas de matagal, o que foi feito durante todo o domingo (20).  “A gente já estava fazendo buscas sem rumo, sempre que recebíamos alguma pista íamos checar. Passamos o domingo na região da Vila 1º de Março, procurando. Retornamos só à noite. A gente não tinha esperanças de encontrar ela viva por causa das ameaças que ela sofria. Inclusive a última pessoa a ter contato com ela depois que ela saiu de casa foi ele”.

Raimunda afirma que o casal estava separado há aproximadamente três meses e que a relação era conturbada. “Ele foi na casa de uma sobrinha minha, há uns dois meses, e disse pra minha sobrinha que iria matar ela. Ele era apaixonado por ela, mas era agressivo. Ele queria que ela ficasse com ele de qualquer maneira”, destacou.

Outro fator que aponta para Igor Rafael como o suspeito, diz a tia, foi trazido à tona pelo próprio pai dele, que esteve na casa da família da vítima na manhã desta segunda-feira. “Ele disse que entrou em contato com a pessoa que emprestou um carro para o Igor e esta pessoa informou que ele devolveu o carro sujo de sangue. O próprio pai dele não tem mais dúvidas e disse que ele vai pagar pelo que fez. Todo mundo conhece ele”, afirmou.

Na noite de domingo, por volta das 22 horas, os familiares de Valéria receberam uma ligação informando que Igor Rafael estaria na rodoviária, tentando deixar Marabá. “Meu irmão acionou a Polícia Militar, a viatura foi com ele na rodoviária, mas ele já tinha pegado um ônibus. O pai dele garantiu pra gente que vai achar ele e vai trazer ele de volta. Estamos aguardando que ele seja preso e que se esclareça o caso”.

Os familiares da vítima têm, em mãos, várias ocorrências policiais registradas pela vítima, além da decisão judicial determinando a medida protetiva. Pessoas que trabalharam com Valéria em um estabelecimento comercial afirmam que era comum Igor Rafael ir ao local ameaçar a mulher e afirmam já terem se sentido também intimidados pelo homem.

O corpo foi encontrado já em avançado estado de decomposição, por um transeunte que estranhou o odor e a presenta de urubus ao passar pela vicinal. Os familiares de Valéria estiveram no local, identificando a vítima pelas vestes que ela trajava quando desapareceu de casa, em momento de muita comoção. O cadáver estava em meio ao matagal, a poucos metros da estrada de chão. Após a necropsia, em razão do cadáver já estar em decomposição, foi realizada apenas uma cerimônia íntima e o sepultamento ainda nesta segunda.

Morte traz tristeza e revolta

Nesta segunda, após o corpo ter sido descoberto, o tio de Valéria Sousa, o advogado Valdinar Monteiro de Souza, que é procurador da Câmara Municipal de Marabá, publicou um desabafo em sua página, na rede social Facebook, no qual anuncia que o corpo da vítima foi encontrado e também cita Igor Rafael.

“Foi covardemente assassinada pelo bandidinho de nome Igor Rafael Almeida Caldas, seu ex-convivente e pai dos gêmeos, hoje com menos de 3 anos de idade. O verme covarde que matou futilmente minha sobrinha, ocultando o cadáver, tirou da família e dos amigos o direito de lhe prestar as últimas homenagens, velando-lhe cristãmente o corpo antes do sepultamento. Sem palavras para expressar minha revolta e os meus sentimentos mais profundos neste momento, tanto em relação à minha querida sobrinha quanto em relação ao infeliz que lhe tirou a vida!”, escreveu.

A tia, Raimunda, diz que o desaparecimento e a notícia do assassinato devastaram os familiares de Valéria. “Desde quando ela sumiu ninguém comeu mais, ninguém dormiu mais. Ela tem os filhos gêmeos com ele e as crianças o tempo todo perguntando dela, pedindo pra ligar pra ela. Nem as crianças não estão dormindo mais. É muito difícil. O pai dela está em estado de choque, a mãe dela nem levanta mais. Está muito difícil”, finalizou.

Polícia Civil investiga o suspeito

A delegada Simone Felinto, diretora da 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil, confirmou por telefone na noite desta segunda-feira (21), que Igor Rafael é suspeito investigado no caso. De acordo com ela, ele esteve na delegacia no sábado, mas não havia elementos para mantê-lo preso, uma vez que sequer o corpo da mulher havia sido encontrado e não se sabia se de fato ela estava morta.

Ela diz que na ocasião ele afirmou ter visto a mulher, alegando que ela teria passado em seu local de trabalho, acompanhada de outro homem, em um veículo preto, o que a Polícia Civil acredita ser apenas uma tentativa de álibi. No domingo, afirma, o proprietário de um veículo procurou a Delegacia de Polícia Civil e relatou ter emprestado carro para Igor Rafael, que devolveu o veículo com manchas de sangue.

“O proprietário diz que ele pegou o carro à tarde e só devolveu à noite e achou estranho que o carro voltou lavado. Mesmo assim ele notou, no domingo, manchas que pareciam ser de sangue no painel. Levou então o carro para uma lavagem a seco e quando foi desmontado o interior descobriu-se uma quantidade muito grande de sangue”. O proprietário apresentou o veículo na delegacia e o automóvel foi encaminhado ao Centro de Perícias Científicas Renato Chaves. Além disso, foi identificada uma perfuração no teto do carro, que pode ser fruto de um disparo de arma de fogo.

Felinto acrescentou que havia um procedimento por ameaça confeccionado pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) que gerou as medidas protetivas, mas que em nenhum momento a vítima comunicou que elas estivessem sendo quebradas, o que poderia ser motivo para que fosse decretada a prisão preventiva do homem. (Correio do Tocantins/Luciana Marschall)