Uma das obras nas quais a Operação Lava Jato suspeita de pagamento de propinas pela Odebrecht, a construção do novo aeroporto de Goiânia, iniciada em 2005, foi superfaturada em R$ 211,6 milhões, segundo cálculo do Tribunal de Contas da União (TCU). O prejuízo é considerado por auditores da corte de contas um emblema da sangria causada pelo esquema de corrupção e desvios do qual a empreiteira se beneficiou.
Ao todo, o contrato e os aditivos fiscalizados consumiram R$ 564 milhões. Nos próximos meses, o tribunal terá de auditar, com base em novos dados da investigação, dezenas de outros projetos negociados pela Odebrecht em troca de suborno. O pente-fino nos empreendimentos citados na Lava Jato, a cargo de um grupo especial do TCU, pode dar a dimensão das perdas reais causadas ao País.
Por ora, a empreiteira e sua subsidiária Braskem, que atua no setor petroquímico, admitiram a distribuição de R$ 3,4 bilhões em propinas a autoridades e servidores públicos de 12 países. No Brasil, foi pago R$ 1,1 bilhão, o que viabilizou R$ 6,3 bilhões em contratos. Os dados constam de relatórios do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, divulgados na semana passada. O superfaturamento apurado nas obras como um todo, no entanto, ainda é uma incógnita e está em apuração.
Planilha
As obras do aeroporto de Goiânia foram tocadas pela Odebrecht em consórcio com a Via Engenharia. Planilha do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, o “departamento de propinas” da empreiteira, indicou o pagamento de suborno a dois agentes públicos da Infraero, identificados pelos codinomes “Americano” e “Americano Velho”.
O documento, apreendido na Lava Jato, atribui os valores ao contrato do aeroporto.
Em 2006, ano seguinte ao início do empreendimento, o TCU já havia apontado superfaturamento de R$ 47 milhões nos contratos. O valor era 80% superior ao que os serviços realmente custavam.
Procurada pela reportagem, a Odebrecht informou que não se manifesta sobre o tema, mas “reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça”. Em nota, referindo-se à Odebrecht, a Via Engenharia alegou desconhecer as “circunstâncias das negociações que envolvem diretamente a consorciada parceira”. A Infraero afirmou que sua “atual administração já atua ao lado do TCU para a apuração dos fatos, ainda que não tenha sido notificada pelas autoridades” da Lava Jato.