Kátia Abreu afirmou que ministro da Justiça, deputado à época, agiu junto a outro parlamentar para evitar que Daniel Gonçalves Filho fosse afastado da pasta. Senadora diz que PF praticou “crime de lesa-pátria”
A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), em discurso feito em plenário nesta tarde (terça, 21), afirmou que dois deputados peemedebistas da bancada do Paraná a pressionaram, à época que ocupava o cargo de ministra da Agricultura, para que o superintendente da pasta no estado, Daniel Gonçalves Filho, apresentado pela Polícia Federal como o líder da organização criminosa investigada pela Operação Carne Fraca, fosse nomeado para assumir a posição. Apesar de não ter mencionado no discurso o nome do então deputado Osmar Serraglio, hoje ministro da Justiça, a senadora publicou em perfil oficial do Twitter uma matéria intitulada “Serraglio era protetor do fiscal da ‘Carne Fraca’” ontem (segunda, 20).
Ainda de acordo com Kátia Abreu, ela “insistiu” com os dois parlamentares responsáveis pela indicação para que outra pessoa fosse nomeada. Entretanto, diante da “insistência”, acabou cedendo o cargo a Daniel. “Esse cidadão que foi nomeado tinha processos administrativos no Ministério. E eu nunca vi, em todo o período em que lá estive, e nunca tive notícias de uma pressão tão forte para não tirar esse bandido de lá”.
“Eu espero que essas pessoas, que esses Parlamentares estejam com a sua consciência bastante pesada, porque não foi por falta de argumentação”, enfatizou a senadora.
Osmar Serraglio, hoje ministro da Justiça, conforme a senadora publicou em perfil oficial do Twitter, seria o
“protetor do fiscal da ‘Carne Fraca’”
A senadora enfatizou que precisou ligar para a então presidente da República, Dilma Rousseff, para alertá-la sobre as pressões que disse estar sofrendo: “Dois deputados do meu partido insistiram para que a lei não fosse cumprida ao ponto de eu ter que ligar para a presidente Dilma e lhe dizer a minha decisão de demitir e com que consequências políticas eu ia arcar. Ela imediatamente disse: ‘Demita já! Faça o que tem que ser feito.’ Mas foram dias de pressão no ministério, buscando processo para defender esse marginal”.
Carne Fraca
No mesmo discurso, a senadora fez duras críticas à atuação da PF na Operação Carne Fraca e avaliou a investigação como ”situação ridícula”. Kátia Abreu disse ainda que as apurações são “uma verdadeira operação de destruição da pecuária de corte bovina, suína e de aves” e que os 1,1 mil agentes colocados nas ruas para cumprir os mandatos fizeram “um festival de horrores”.
“Quero deixar aqui na Mesa um pedido do custo desses 1,1 mil agentes na rua, porque não estavam atrás de traficantes, não estavam atrás de assassinos. Eu não conheço nenhuma operação dessa envergadura atrás de fiscais federais e empresários”, criticou.
“A Polícia Federal tem toda a autonomia, tem toda a nossa admiração, sempre recebeu recurso próprio desta Casa, orçamento aprovado por nós. Se não a quiséssemos independente, não lhe daríamos orçamento, porque essa lei depende de nós Senadores e Deputados para ser aprovada. Nunca deixamos faltar dinheiro para a Polícia Federal, mas também não vamos deixar que um delegado e que meia dúzia de chefes da PF possam manchar o trabalho da Polícia Federal no Brasil, mas foram, sim e praticaram crime de lesa-pátria”, acrescentou a ex-ministra.
Até o momento do fechamento desta matéria o Ministério da Justiça não havia se manifestado sobre as colocações da senadora.