Copa do Mundo: é verdade que cabecear a bola pode lesionar o cérebro?

Saiba mais sobre os traumas nessa região, que preocupam as entidades esportivas

Em plena Copa do Mundo, alguns protocolos de saúde, realizados pela Federação Internacional de Associações de Futebol (FIFA), chamam a atenção e são novidades nessa edição do mundial. Entre eles, está a substituição extra (sem interferir nas cinco clássicas), caso algum jogador tenha sofrido alguma suspeita de concussão, como aconteceu com o goleiro do Irã, Alireza Beiranvand, depois de uma violenta colisão com o colega de time Seued Hosseini.

Depois dos exames, os médicos concluíram que o goleiro realmente apresentou um quadro de concussão (disfunção temporária no cérebro), que desencadeia sintomas como dor de cabeça, perda de memória, tontura, falta de coordenação e confusão mental, entre outros.

“Se houver sinais ou sintomas de lesão cerebral, ou de lesão por concussão, apesar de não aparentar, o médico deve retirar o jogador do campo para um exame mais detalhado”, diz a recomendação da FIFA para o mundial realizado no Catar. Essa é uma recomendação nova para o futebol clássico, apesar de ser bem comum em esportes com o rúgbi, onde os impactos na cabeça são mais constantes.

LESÕES

O neurocirurgião do Hapvida NotreDame Intermédica, Eustáquio Campos, explica que há dois tipos de lesões cerebrais mais comuns no mundo esportivo. Uma delas é a Encefalopatia Traumática Crônica, comumente chamada de “demência pugilística”. Ela se desenvolve a partir da maior frequência e intensidade da exposição aos traumas repetitivos. É o caso, por exemplo, dos cabeceios realizados no futebol. O que a difere da lesão mais conhecida atualmente – a concussão – é que impactos menores, mas repetitivos, podem desencadear a enfermidade.

Por geralmente serem causados pela repetição e com menos intensidade, os sintomas tendem a surgir após longo período de exposição, o que significa que o problema só será identificado no longo prazo. Alguns sintomas da demência pugilística são alterações no humor, como o surgimento de depressão; diferenças comportamentais, como inquietação e gritaria; déficit cognitivo, como perda de memória e disfunção executiva; e anormalidades motoras, como o parkinsonismo.

O outro tipo de lesão, mais conhecida, é a concussão. “É uma condição aguda que tende a ocorrer imediatamente após um traumatismo craniano de grande contato físico na parte da cabeça. Essa situação não é comum em práticas esportivas de menor impacto, como no futebol. Porém, em outras condições em que o impacto é mais significativo, como no futebol americano, essa passa a ser uma alteração relativamente frequente”, explica o neurocirurgião do Hapvida NotreDame Intermédica.

Os sintomas podem incluir dor de cabeça, confusão mental, falta de coordenação, perda de memória, náuseas, vômitos, tonturas, zumbido nos ouvidos, sonolência e fadiga excessiva, que ocorrem de modo precoce e agudo.

O que fazer?

No intuito de tentar minimizar o risco de desenvolvimento da Encefalopatia Traumática Crônica, Eustáquio aponta medidas que podem ser tomadas, como evitar ao máximo exposição aos traumas, manter uma dieta saudável, excluir o consumo de álcool ou fazer uso moderado e não fumar. Essas três últimas condições, inclusive, exercem um papel importante no envelhecimento saudável do cérebro, reduzindo as principais causas de demência.

Já na concussão cerebral, é feito o tratamento de suporte, ou seja, baseado no uso de medicamentos contra os sintomas. “Além disso, mudanças nas atividades de rotina são fundamentais, evitando exposição a novo evento traumático. Não há cura específica nessa condição, contudo, o descanso e a restrição de atividades permitem ao cérebro se “recuperar”. Isso significa que é preciso reduzir temporariamente o tempo dedicado aos esportes, jogos de videogame, televisão, socialização, entre outros cuidados”, finaliza o especialista.

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